Arquibancadas para desfile do Afródromo seriam montadas na Avenida da França
O "afródromo", como será chamado o possível quarto circuito da festa momesca para o desfile de afoxés e blocos afros, no Comércio, deve ter suas estruturas montadas já no Carnaval de 2013 para receber 140 mil foliões, destes, 20 mil em arquibancadas. Fruto de uma parceria entre a Pilar Produções e a Liga dos Blocos Afros, o projeto, além de ter sido recebido de forma positiva pela Prefeitura de Salvador e órgãos estaduais e federais, já tem o apoio de grandes marcas e estudos que estimam a geração de 25 mil empregos diretos e indiretos. O novo circuito movimentaria ainda R$ 120 milhões e uma receita de tributos para o Estado da Bahia de cerca de R$ 7 milhões.
O estudo preliminar foi realizado pela empresa Hoffing, contratada pela parceria entre a Pilar e a Liga, composta pelo Malê Debalê, Timbalada, Muzenza, Cortejo Afro, Ilê Aiyê, Carlinhos Brown e Afoxé Filhos de Gandhi. Nesta segunda, 27, Brown e o vice-presidente do Malê Debalê, Miguel Arcanjo, estiveram no Jornal A TARDE para apresentar o projeto e mostraram entusiasmo com o que chamam de "recondução da questão cultural, no Carnaval, com o foco afro". "Acreditamos que isso não separa, e sim avança. Precisamos acabar com a dicotomia de que o Carnaval é problemático porque não valoriza suas matrizes", disse Brown.
O afródromo será um espaço cultural em uma área delimitada pelo Mercado Modelo e a Feira de São Joaquim. As arquibancadas serão montadas na Avenida da França, e os trios retornarão pela Avenida Estados Unidos. As transversais servirão de apoio, com banheiros, torres de controle, espaço VIP, parque para crianças.
Segundo Brown, o afródromo foi desenvolvido para ser um projeto inovador. No desfile, as marcas serão publicizadas com projetores nas paredes da Codeba para não poluir visualmente a festa. A entrada será feita por catracas e detectores de metal, torres de controle irão monitorar com câmeras pelo circuito e cada bloco terá apenas um trio, sem o carro de apoio.
"Além de utilizar tecnologia de ponta, terá mais segurança sem abusar do trabalho dos policiais militares. O circuito dá uma volta nesse trecho do Comércio. Não causa engarrafamento e tem hora pra começar e terminar", destaca o músico. O vice-presidente do Malê, Miguel Arcanjo, lembra ainda o potencial cultural e artístico do projeto. "Haverá espaço para pregar a diversidade. Para fazer uma festa bonita visualmente, sem poluição, com direito as cores e belezas que já existem nas fantasias", explica.
O secretário de Cultura do Estado, Albino Rubim, vê o afródromo como algo positivo. "Vai ser um elemento a mais. Não vai contra o que existe, só acrescenta", opina.
Dúvidas - Doutor em comunicação e cultura contemporânea, o professor da Ufba Paulo Miguez acha a iniciativa interessante, mas teme a participação da prefeitura. "A prefeitura não tem sido uma instituição que enfrente os grandes problemas do Carnaval", afirma. Para Miguez, o Carnaval, em Salvador, não é visto como patrimônio imaterial. "Não existem políticas culturais. Ele é visto como mercado. Não incorpora a totalidade dos atores da festa e o Conselho Municipal do Carnaval é incapaz de fazer. Além, claro do desequilíbrio entre o espaço público e o privado", diz.
*Colaborou Helga Cirino