Clima festivo da Parada não diminui importância da militância pelo respeito à diversidade, dizem esp
Neste domingo, estima-se que 100 mil pessoas estarão reunidas no Campo Grande para participar da 11ª Edição da Parada Gay. Este ano, o evento tem um diferencial: está sendo precedido pela I Semana da Diversidade, série de ações culturais - com palestras, debates, exibição de filmes temáticos e instalações artísticas - voltadas para gays, lésbicas, travestis, transexuais, simpatizantes e famílias interessadas em discutir o enfrentamento à homofobia, ao machismo e ao sexismo, práticas recorrentes na sociedade brasileira.
A semana de atividades, iniciada no último dia 4, tem apoio da Secretaria de Turismo do Estado (Setur), que pretende apostar na parada como uma das atrações turísticas de Salvador para os próximos anos. No entanto, o tom festivo que as paradas têm tomado no Brasil (a de São Paulo é considerada a maior do mundo) vem levantando críticas sobre a funcionalidade como manifestação política. "Acho que, se virar carnaval, perde o tom de protesto. Todo mundo cai na gandaia, mas depois esquece o propósito", opinou o estudante Danilo de Souza Brito.
"Inovação" - Diversos pesquisadores da Bahia discordam dos que definem as paradas gays como "carnavais fora de hora". Para o professor Leandro Colling, do Instituto de Humanidades, Artes e Ciências da Universidade Federal da Bahia (Ihac - Ufba), pesquisador do Núcleo Cultura e Sexualidade (CUS), o fato de a manifestação ter se transformado numa "festa" não significa despolitização. "Quem acha isso pensa política da maneira restrita do discurso racional. A parada gay inova na maneira de protestar, provocando a sensibilização das pessoas para um tema. Isto, por si só, cumpre o seu papel", diz Colling.
Ele parte do princípio de que o grande número de "foliões" não está ali para apenas curtir uma música eletrônica. "Se um gay vai para a parada, ele tem o sentimento de que não está sozinho. Ainda que seja uma sensação momentânea, é uma ação política também. Este ano, fomos ainda para a frente, pois tivemos outras dinâmicas, como a Semana da Diversidade", acrescenta o professor.
De forma parecida pensa o antropólogo e professor da Ufba Edward MacRae. "O que está se querendo fazer é uma mudança cultural. É muito mais eficiente o combate à homofobia e ao machismo quando se consegue um público que se junte com os manifestantes, seja de forma carnavalizada ou não". Para MacRae, "o fato de fazer com que as pessoas participem, sem que sejam estigmatizadas, representa um avanço. Um protesto só com palavras de ordem não tem tanto efeito. Se torna maçante e cansativo", afirma.