Delegado mostra documentos impressos encontrados na casa de Lílian e André
A irmã e o cunhado do deputado federal João Carlos Bacelar foram presos, pela manhã, acusados de tentar extorquir R$ 50 milhões da herança deixada pelo pai do parlamentar. A irmã, a administradora Lilian da Silva Bacelar, 32 anos, e o companheiro dela, o produtor de eventos André Dumet Guimarães, 38, ameaçavam divulgar informações pessoais e profissionais do deputado se a família não abrisse mão da quantia exigida por eles. A disputa pela herança ocorre há dois anos, aproximadamente.
De acordo com o delegado Oscar Vieira de Araújo Neto, do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio (DCCP), André passou a interceptar e-mails enviados e recebidos por Bacelar e montou dossiês com o conteúdo das mensagens. Desde o início de 2011, o cunhado recebia em seu computador todos as mensagens eletrônicas do deputado. A perícia identificou mais de 600 acessos indevidos à conta de Bacelar.
"André passou parte das informações para a imprensa como chantagem para favorecer a esposa no processo de partilha de bens da família", afirmou o delegado. "Eles também fizeram denúncias de cunho político no Ministério Público e Controladoria Geral da União contra o deputado", completou.
André conseguiu ter acesso aos e-mails de Bacelar por meio de um programa ainda não identificado pela polícia. O delegado Oscar Vieira de Araújo Neto investiga se o programa usado por ele permitia fazer alterações.
Os acusados, conforme informações oficiais, também entregaram mensagens impressas a Isabela Suarez, então mulher do deputado. O conteúdo desse material teria sido o motivo do fim do casamento entre Suarez e Bacelar. "Não tiraram dinheiro, mas tiraram a mulher e o sossego", afirmou o delegado Neto. André e Lilian não foram apresentados à imprensa. Durante interrogatório policial, eles se reservaram o direito de ficarem calados, segundo a polícia.
As informações profissionais divulgadas e as denúncias feitas por André e Lilian contra Bacelar referem-se a supostas irregularidades na atividade parlamentar. Bacelar foi notícia na mídia como acusado de liderar um esquema de compras de emendas parlamentares. Ou seja, ele destinava as emendas a prefeituras baianas que contratavam a empreiteira de sua família, a construtora Embratec. As denúncias contra o parlamentar apontam ainda a contratação de funcionários fantasmas e parentes, além da posse de rádio em nome de "laranjas". As denúncias foram arquivadas pelo Conselho de Ética da Câmara dos Deputados.
De acordo com o delegado Oscar Neto, André foi indiciado por interceptação e extorsão e Lilian por extorsão. Ela já responde a um processo por estelionato por ter desviado R$ 580 mil da empresa da família.
A reportagem tentou falar com Bacelar, mas foi informada por seu advogado, Gilberto Vieira, que "por questão pessoal, ele não quer se pronunciar". Segundo Vieira, Bacelar afirma que o conteúdo das mensagens eletrônicas divulgadas foi alterado. "O entendimento (da família) é de que a irmã foi influenciada pelo namorado para fazer as ameaças", afirmou. Ele disse não saber o motivo pelo qual Lilian exige R$ 50 milhões. Este valor, segundo a polícia, corresponde a mais da metade da herança, que deve ser compartilhada entre a viúva, o deputado, Lilian e mais duas filhas.