Devoção vem antes da festa profana no Rio Vermelho
O Rio Vermelho ficou lotado de devotos durante todo o dia de Iemanjá, principalmente na hora de o presente principal ser levado ao mar. Por volta das 16h30 desta sábado, 2, o cortejo deixou a casa dos pescadores com a oferenda em um andor carregado em uma das alças pelo prefeito ACM Neto. Quando a escultura chegou à praia foi recebida ao som dos fogos e aplausos de devotos e curiosos, tanto da areia quanto dos barcos e lanchas espalhados na enseada.
Confeccionada pelo artista plástico e morador do Rio Vermelho, Rui Santana, a peça com a imagem de Iemanjá foi feita em vidrilho, pequenas lâmpadas brancas e refletores azuis. Na África negra, a divindade é a Princesa de Aiocá, um dos mundos sagrados, moradora de rios e filha do soberano dos oceanos, Olokun. Quando seu culto chegou à Bahia, ganhou a coroa do pai e centenas de admiradores.
Para o Pai William de Oxalá, neto do Ilé Axé, o dia foi inesquecível. "Passamos o ano nos preparando para este momento, e a despedida é emocionante", explica o devoto. "Venho à festa há 17 anos, desde que recebi um milagre de Oxalá e Iemanjá".
O séquito de súditos incluia pescadores, povo de santo e turistas. Há também quem goste mesmo da muvuca e das feijoadas realizadas perto da Casa dos Pescadores, como o casal Vagner Andrade e Marluce Nunes.
O trabalhador de segurança e a auxiliar de saúde bucal estavam em uma festa de amigos na Rua do Canal, e disseram que comparecem sempre que podem. "Fomos à praia e agora curtimos nossa própria comemoração, com comida e banda".
Oferendas - Logo cedo, centenas de devotos já se reuniam no Rio Vermelho para entregar suas oferendas a Iemanjá, festa realizada desde a década de 30. Railda dos Santos, 65 anos, chegou às 4h30 para esperar na fila e deixar o seu presente. Engenheira, Railda mora em Curitiba há 30 anos, mas sempre que pode retorna à Bahia para a festa. "Já faz cinco anos que eu não conseguia vir. Mas este ano deu tudo certo. Pedi paz, prosperidade e saúde".
Carlinhos Brown, que costuma fazer sua apresentação na festa, acompanhado pelo grupo Zárabes, não foi ao Rio Vermelho este ano. Precedida por uma alvorada de fogos, a escultura com o presente principal chegou por volta das 5 horas. O sol já começava a despontar, mas ainda deu para conferir o efeito high tech da peça.
No barracão, mãe Aíce Santos, ialorixá do terreiro Odé Mirim, completou 21 anos à frente das obrigações religiosas da festa. Após a chegada do presente, ela entoou os cantos sagrados, fez as reverências finais. "A gente pede paz, saúde e prosperidade, explicou equede Filhinha, que acompanha mãe Aíce desde o seu primeiro ano como responsável pelos ritos sagrados da festa. Mas quem foi de carro sofreu, pois os flanelinhas atuaram livremente, mesmo com a presença de agentes da Transalvador.