Principal objetivo do protesto é chegar a um acordo com os representantes do programa
Cerca de 1200 sem-teto invadiram e ocupam, desde a madrugada de domingo, 17, os onze prédios do Condomínio Maria de Lourdes, do programa Minha Casa, Minha Vida, do governo federal, voltado para famílias de baixa renda, no bairro Fazenda Grande IV, em Salvador. Com documentos em mãos, as famílias, que alegam fazer parte do projeto de habitação, disseram que até o momento não foram informadas sobre quando serão contempladas.
Segundo os invasores, o principal objetivo do protesto é chegar a um acordo com os representantes do programa. Os manifestantes informaram que só deixarão o local após um posicionamento das autoridades. "Eu moro dentro de um barraco, sem banheiro e sem pia, praticamente no meio do mato, enquanto as residências aqui estão vazias. Fui cadastrada no programa desde 2005 e até agora nada", reclamou Maria Sônia Pereira Santos, 42, da Associação dos Trabalhadores, Desempregados e Sem-teto de Salvador, com documento que comprova inscrição em mãos.
"Muitos estão dormindo no chão e algumas pessoas estão doentes. Saímos de uma invasão em Fazenda Grande porque fomos informados que as casas seriam liberadas, mas ninguém nos garantiu nada. Estamos cansados", disse a dona de casa Cleiciana da Silva, 28, que também participou da invasão com o marido e com os dois filhos.
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Moradora de uma comunidade em Fazenda Grande IV, Aline Passos, 23 anos, afirmou que não tem saneamento básico onde residia. Por estar inscrita no programa e saber que os apartamentos estavam vazios, a jovem também decidiu ocupar o local. "Isso é um absurdo. Tem mulheres gestantes, crianças, idosos e deficientes físicos aqui, e ninguém tem resposta nenhuma", protestou.
Polícia fecha cerco - Como forma de evitar que o protesto tome maiores dimensões, agentes da 3ª Companhia Independente da Polícia Militar (3ª CIPM/ Cajazeiras) interceptaram, desde a a noite de domingo, a entrada de novos manifestantes, além de alimentos e água. Quatro viaturas da polícia, além de uma unidade da Salvar, para caso de emergência, permanecem no local.
"Os moradores querem uma resposta dos órgãos responsáveis. A Caixa Econômica Federal (CEF), a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) e a Secretaria de Desenvolvimento Urbano (Sedur) já foram notificadas e deveriam estar aqui, mas, até o momento, ninguém compareceu", disse o Major César, à frente da operação.
Ainda conforme o major César, os policiais aguardam a população desocupar espontaneamente ou a Justiça determinar a reintegração de posse. Os manifestantes protestaram contra o cerco feito pelos policiais, mas não houve embate. "Sou cardiopata e meus remédios já acabaram, mas não posso sair para comprar. Já tentei sair mas eles disseram que, se eu sair, não poderei mais voltar. E não tenho para onde ir", disse Lázaro Santos Borges, 62.
"A gente comprou biscoito e suco, mas já acabou tudo e as crianças estão passando fome. Mas não vou sair daqui. Prefiro lutar por uma casa", afirmou Olemberg dos Santos, 33, que disse estar inscrito no programa desde 2011, conforme documentação apresentada. "Somente a imprensa apareceu para falar com a gente. Não sabemos como vai ficar a nossa situação", preocupa-se.
A equipe de reportagem tentou entrar em contato com a Conder e com a Sedur, mas não obteve êxito. A Caixa Econômica ficou de dar uma resposta sobre o caso, mas, até o fechamento da reportagem, não se pronunciou.