Manifestantes entraram em confronto com a PM no Centro
Salvador virou campo de batalha ontem, com o registro de violência em várias partes da cidade, confrontos entre policiais militares e manifestantes que foram às ruas exigir melhorias para o país. O ato anunciado como uma mobilização pacífica foi marcado por cenas de vandalismo, ônibus queimados e depredados, gente ferida e acuada por bombas de gás lacrimogêneo, em tristes cenas veiculadas para todo o Brasil. No cenário nacional, os protestos alcançaram 75 cidades e reuniram 1 milhão de pessoas. Em Brasília, houve tentativa de invasão do Palácio do Itamaraty, com 26 feridos, um em estado grave. O Rio de Janeiro contabilizou 41 feridos na maior concentração do país, que reuniu 300 mil pessoas. São Paulo reuniu 100 mil.
O que prometia ser uma mobilização pacífica por mudanças no Brasil terminou em violentos confrontos entre manifestantes e a Polícia Militar em diversas áreas do centro, que deixaram pelo menos uma mulher ferida.
Três ônibus e um Ford Fiesta incendiados, dois ônibus apedrejados, dezenas de vans pichadas e pontos de ônibus apedrejados foram o saldo após mais de cinco horas de enfrentamento.
O confronto foi provocado por dissidências que adotaram caminhos diferentes do acordado com a polícia e tentaram ultrapassar as barreiras de acesso à Arena Fonte Nova.
Por volta das 14h30, pessoas ligadas ao Movimento Passe Livre e o Nas Ruas informaram ao coronel Jorge Nascimento, responsável pelo policiamento que os manifestantes iriam até o cordão de isolamento da polícia em frente ao Dique do Tororó, descendo pelo Politeama para o Vale dos Barris.
Entretanto, sem consenso entre os manifestantes, uma vez que alguns diziam que o caminho era uma "armadilha" da polícia, houve uma indefinição de aproximadamente uma hora, que culminou com a divisão de uma parte menor do grupo que foi pela Avenida Sete.
No meio da Avenida Sete, antes do confronto com a tropa de choque em frente ao Colégio Central, o grupo menor ainda se desentendeu, gerando um confronto entre os próprios manifestantes.
O grupo que seguiu pela Avenida Sete foi impedido de continuar por uma barreira dupla de policiais militares, no Colégio Central. "A ordem é não deixar passar", afirmou o tenente coronel da Polícia Militar, Sérgio Baqueiro.
Quando a linha de frente da manifestação forçou a passagem, a tropa de choque respondeu com bombas de gás lacrimogêneo.
"A bomba pegou nas minhas costas. Passei mal, meu rosto está ardendo", disse a estudante Lavinha Bittencourt, 21 anos.
Em frente ao Dique, a primeira bomba foi atirada pela tropa de choque da Polícia Militar às 16h22, depois que diversos manifestantes ultrapassaram a área de isolamento, causando um grande tumulto, que deixou manifestantes e moradores da região assustados.
"Foi uma babaquice essa divisão e tentar passar pelo bloqueio da polícia", disse a estudante de fisioterapia, Patrícia Souza, 27 anos, ressaltando que a imensa maioria dos manifestantes discordava do que acontecia.
Morador do Dique do Tororó, o eletricista Rafael Salgueiro, 21 anos, tentou sem sucesso voltar para a residência das 14h30 até depois das 18h. "Tentei vir pela Lapa, estava tendo confusão e agora estou aqui (no Vale dos Barris) na mesma situação", disse.
No início da noite, um grupo de aproximadamente 100 pessoas ainda tentou invadir o prédio da Prefeitura, mas foram demovidas após negociação a Polícia Militar.
O QUE OS MANIFESTANTES QUEREM:
ATOS |
O QUE É O PLEITO |
COMO ESTÁ |
OPINAR/MOBILIZAR |
PASSE LIVRE / TARIFA ZERO |
Assim como a saúde e educação, o transporte público de qualidade também é entendido como um direito do cidadão e, desta forma, deveria ser gratuito para todas as pessoas |
Em Salvador a tarifa é de
R$ 2,80. O último reajuste ocorreu em 2011. O secretário de Transportes, José Carlos Aleluia, já disse que, como não houve aumento este ano, não há porque diminuir
o valor da passagem |
Sugerir à Câmara de Vereadores ou à prefeitura audiências públicas para pressionar pela abertura das contas do transporte público. Para isso, ofício com a solicitação pode ser enviado
ao Legislativo ou Executivo |
METRÔ / AUDITORIA |
Sistema de transporte consumiu R$ 1 bilhão antes que os 6 km iniciais (Lapa-Pirajá) fossem inaugurados. O pleito é que sejam auditadas as contas relativas à obra e que os culpados por possíveis irregularidades sejam punidos |
A suspeita de irregularidades pelo consórcio levou o Tribunal de Contas da União (TCU) a paralisar as obras durante muito tempo. Com acordo entre prefeitura e governo do Estado, as obras serão retomadas após licitação que acontece em julho |
Sugerir ao Executivo e Legislativo audiências públicas e sessões especiais nas quais fique transparente a situação atual do metrô. Usar a Lei de Acesso à Informação para obter informações oficiais e públicas |
PEC 37 |
Proposta de Emenda Constitucional (PEC) que tramita na Câmara dos Deputados. Propõe que investigação criminal seja exclusiva das polícias federal e civis, retirando esta atribuição de alguns órgãos, sobretudo do Ministério Público (MP) |
Na pauta da Câmara dos Deputados, estava prevista para ser votada no próximo dia 26. O presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves (PMDB-RN), decidiu adiar a votação por conta da pressão popular. O tema é polêmico e divide parlamentares |
Como assunto está em Brasília, a pressão tem de ocorrer entre os deputados. Pode ser por meio de abaixo-assinados eletrônicos, pressão nas galerias do plenário. O eleitor pode cobrar, nas redes sociais, uma posição do deputado em que votou |
COPA / IRREGULARIDADE |
Indícios de irregularidades nas construções de estádios nas cidades-sede da Copa do Mundo. Até agora, cerca de R$ 8,5 bilhões foram gastos pelos governos nas obras e reformas das arenas nas cidades-sede. A previsão inicial era de gastos da ordem de R$ 5,1 bilhões |
Em Salvador, o consórcio OAS-Odebrecht operou a construção da Arena Fonte Nova e também irá explorá-la durante 15 anos, através de
um contrato de Parceria Público-Privada (PPP). Ao final de 15 anos, o governo terá aportado R$ 1,4 bilhão |
Como a Fonte Nova já foi construída, compete agora a fiscalização da correta operação do consórcio, o que deve ser feito por meio do TCE e órgãos de controle como Ministério Público. Para obter informações, é possível usar a Lei de Acesso à Informação |
"CURA GAY" |
O projeto propõe a revogação de uma resolução do Conselho Federal de Psicologia que proíbe os profissionais de atuarem de terapias para alterar a orientação sexual. Ou seja, se for revogado o artigo, psicólogos poderão promover "curas" do homossexuais |
O defensor do projeto na Câmara é o deputado Pastor Marco Feliciano (PSC-SP), eleito presidente da Comissão de Direitos Humanos na Casa. Essa Comissão aprovou com apenas um voto contra, na terça-feira. O projeto agora segue para o Plenário |
Como o assunto está em Brasília, a pressão tem de ocorrer entre os deputados. Pode ser por
meio de abaixo-assinados eletrônicos, pressão presencial nas galerias do plenário. O eleitor pode cobrar, nas redes sociais, uma posição do deputado em que votou |
REFORMA POLÍTICA |
Promessa de campanha da presidente Dilma Rousseff (PT), trata-se de uma lista extensa de propostas que alteram as leis que regem os sistemas de financiamento de campanha eleitoral, do funcionamento das coligações de chapas majoritária e proporcional. |
O relator da proposta, deputado Henrique Fontana (PT-RS) tem buscado dar agilidade à tramitação do projeto entre os pares, mas encontra resistência. O projeto chegou a ir ao plenário, mas os deputados rechaçaram a proposta e adiaram a votação |
O assunto está em Brasília. A pressão tem de ocorrer entre os deputados. Pode ser por meio de abaixo-assinados eletrônicos, pressão nas galerias do plenário ou audiências com parlamentares. O projeto pode ser solicitado junto ao gabinete do relator |
FORMA DE PARTICIPAÇÃO DIRETA |
Propor leis de iniciativa popular
É preciso coletar milhares de assinaturas. Detalhes www2.camara.leg.br/ participe |
Propor audiências públicas
Nas Comissões Permanentes das casas legislativas, é possível oficiar o parlamentar que preside o grupo solicitando audiência pública |
Usar a Lei de Acesso à Informação
Lei obriga entes públicos a darem transparência a seus dados por meio da lei. Se não houver resposta, o cidadão pode acionar o Ministério Público |
Fiscalização do Poder Legislativo
Parlamentares são os porta-vozes do eleitor e devem representá-lo. Formas de ação: assistir a sessões plenárias e solicitar audiências públicas |