Quase um mês sem ver o pai. Este foi o tempo que a auxiliar administrativa Lorena Silva Machado, 20 anos, contabilizou para rever o comerciante Flávio Silva Santos, 42, preso há 82 dias "por engano", segundo a família.
Acompanhada do primo Adriano Silva, 32, Lorena foi ontem à Cadeia Pública de Salvador, em Mata Escura. Apesar do breve encontro, ela saiu confiante.
"Foi emocionante. Meu pai está muito magro, triste. Mas agora estou um pouco feliz. Não 100% porque ele não está em casa, comigo, nem trabalhando. Mas senti uma ponta de alívio", desabafou.
Flávio foi preso em julho passado. O nome dele aparece em inquérito policial de 2007, acusado de ser Bimba, integrante de um grupo de extermínio.
Sobre a conversa com o pai, Lorena relatou que ambos estão confiantes: "Meu pai me tranquilizou. Disse para eu ficar calma que tudo vai dar certo. Foram cinco minutinhos, só para abraçar, ver como ele está, mas está sendo bem tratado".
Na prisão, Flávio ajuda na limpeza. "Não cabe a gente julgar se foi errado (a prisão). O comportamento dele aqui na unidade é perfeito, é dez", destacou o diretor da Cadeia Pública de Salvador, Paulo Roberto Salinas.
Despesa
A defesa do preso estava sendo feita pelo advogado Rodrigo Simões, mas a família do comerciante alegou não ter mais condições financeiras para bancar os custos.
Simões entrou com petição na Justiça, no último dia 10, pedindo a revogação da prisão e a exclusão do nome de Flávio do processo. Anteontem, o advogado Vivaldo Amaral passou a orientar a família.
"Ele ofereceu ajuda quando soube do caso. Eu tinha passado no vestibular para gestão ambiental e deixei de entrar na faculdade porque o dinheiro tinha sido utilizado para pagar o primeiro advogado", contou Lorena.
Amaral disse que vai tentar "soltar" Flávio até segunda- -feira e que a família pretende processar o Estado. "Tenho convicção, a não ser que eu esteja diante de alguém muito dissimulado, mas acredito, com certeza e com veemência, que o senhor Flávio é uma pessoa inocente", afirmou.
Enquanto o destino de Flávio não é decidido, a família se preocupa com Lorena. "Minha filha chora muito. As vezes, não vai nem trabalhar. A gente não esperava. Ela já chegou a dizer que, se não conseguir tirar o pai da cadeia, vai se suicidar", contou Luciana Silva Machado, 39, mãe da jovem e ex-mulher de Flávio.
Quatro inquéritos
O comerciante responde a quatro inquéritos. Segundo o advogado Rodrigo Simões, todos pela atuação de um grupo de extermínio chefiado por traficante identificado como João Teixeira Leal (Jão).
Segundo denúncia oferecida à Justiça pelo MP-BA, um dos crimes ocorreu no dia 17 de abril de 2004, quando Flávio e outros integrantes do grupo, a mando de Jão, teriam matado George Rocha Santos, um suposto rival, e enterrado o corpo da vítima em uma vala no Parque São Bartolomeu.
O promotor de justiça Davi Gallo disse que ainda está analisando os 25 volumes do processo e que as investigações se basearam em escutas telefônicas. "Se tiver indício de que não é ele, vamos pedir a revogação da prisão e exclusão do nome dele do processo. Caso contrário, vai permanecer", alertou.