Familiares de pessoas desaparecidas vão à Piedade para participar de quadro de telejornal
No último dia 10 de maio, o estudante Matheus Silva Souza, 18, saiu de casa, no bairro de Castelo Branco, por volta das 10h, para ir a uma lan house jogar videogame com amigos. Para o desespero da mãe, a diarista Ana Lúcia Conceição da Silva, 48 anos, o jovem não voltou mais para casa e está desaparecido desde então.
O caso de Matheus é um dos 534 desaparecimentos registrados, entre janeiro e outubro deste ano, pela Delegacia de Proteção à Pessoa (DPP), vinculada ao Departamento de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) da Polícia Civil. A média é de cerca de 54 casos por mês - quase dois registros por dia.
"Ele era meu único filho, minha vida. Matheus não tinha problemas em casa, não tinha inimigos, todos gostavam dele, era um ótimo aluno na escola. O pior é esse luto que não acaba, essa dor de não saber se está vivo ou morto", conta, emocionada, a mãe.
Com essas ocorrências, Salvador é considerada a terceira capital com maior número de desaparecidos do Brasil, de acordo com o Cadastro Nacional de Pessoas Desaparecidas (CNPD), que é organizado pela ONG Grupo Institucional Brasileiro (GIB).
Rio de Janeiro é a primeira, com mais de 500 casos por mês, enquanto Belo Horizonte - segunda no ranking do CNPD - tem 70. A estimativa é que cerca de 200 mil pessoas desapareçam por ano no Brasil. Entre elas, 40 mil crianças e adolescentes.

Maior incidência
Segundo a delegada titular da DPP, Heloísa Simões, a maior incidência de desaparecimentos envolve adolescentes. "As principais motivações são conflitos em casa, violência e tráfico, além do homossexualismo. Muitos adolescentes fogem com os namorados porque os pais não aceitam a relação", ressalta.
Somente na faixa etária de 12 a 17 anos, são mais de 155 registros entre janeiro e outubro de 2013, o que representa 29% do total. Entre os motivos do desaparecimento, os conflitos familiares aparecem com 103 casos, seguidos pelas doenças (92 registros) e drogas (89).
Dos 534 desaparecidos este ano em Salvador, 490 foram localizados - 448 vivos e 42 mortos -, o que representa índice de resolução de 91,7% dos casos.
Para a delegada, o alto índice de resolução está relacionada à divulgação dos desaparecidos. Uma das ferramentas utilizadas pela delegacia para a divulgação é a rede social Facebook.
Preocupação
Para o vereador Leandro Guerrilha, presidente da Comissão Especial da Família na Câmara Municipal, os números são preocupantes. "O que está por trás desse número é ainda mais preocupante. O que leva um jovem a sair de casa? Maus-tratos, tráfico de drogas, não aceitação dos pais são os principais fatores. É um grave problema social", afirma.
Para discutir o problema, o vereador promoveu, no último dia 14, uma audiência pública. Durante o evento, ele propôs a criação de um sistema integrado para localizar pessoas desaparecidas.
"O problema são os casos que não são solucionados. Mesmo se fosse um, seria preocupante. O ideal é criar um sistema integrado para ajudar nas buscas, que não envolva apenas a polícia, mas também as secretarias de ação social e meios de comunicação", reforça.
