Simulação de resgate pela escola Anjos Vermelhos
Testemunhas da morte de Gabriel Trindade da Silva, 16 anos, afogado no último domingo, 26, na lagoa do Parque de Pituaçu, serão ouvidas nos próximos dias pela delegada Rogéria Araújo, titular da 9ª Delegacia Territorial (DT), na Boca do Rio, onde o caso foi registrado.
O corpo do jovem foi sepultado na tarde desta segunda, 27, no cemitério Quinta dos Lázaros, na Baixa de Quintas.
Gabriel participava de treinamento da escola de bombeiros mirins Anjos Vermelhos, próximo à represa, quando decidiu lavar equipamentos usados na aula e pulou na água com mais dois colegas. Os outros dois garotos foram resgatados com vida, por instrutores do grupo, logo após o mergulho.
O Corpo de Bombeiros, a Companhia de Polícia de Proteção Ambiental (Coppa) e a Polícia Civil foram acionados às 15h33, e o corpo de Gabriel só foi encontrado às 19h30.
De acordo com o fundador da escola, o bombeiro civil Leopoldo da Silva, a turma que estava no Parque de Pituaçu no momento do afogamento - cerca de 20 jovens - não estava autorizada a entrar na água.
"Sabemos que aquela lagoa é perigosa e alertamos os garotos sempre que temos aula no Parque de Pituaçu. Assim que eles pularam, tentamos resgatá-los imediatamente, mas Gabriel afundou muito rápido. Nadei até onde aguentei, mas não consegui alcançá-lo", disse.
Segundo Leopoldo, o Anjos Vermelhos foi fundado há três anos e oferece curso e treinamento de resgate, busca e salvamento com duração de seis meses. As aulas, ministradas em locais abertos, são voltadas para adolescentes de 14 a 17 anos, moradores de rua ou oriundos de bairros periféricos da capital baiana.
Atualmente, o projeto conta com cerca de 150 alunos, distribuídos em três turmas.
"Não temos uma sede fixa, sequer cobramos mensalidades. É um trabalho social, que tem como objetivo tirar os jovens da marginalidade. As aulas acontecem em locais abertos e nunca foi registrado nenhum tipo de acidente. Os alunos nunca sofreram nem arranhões. Como lidamos com jovens, sempre prezamos pela segurança. O que aconteceu com Gabriel foi uma fatalidade", disse.
A reportagem de A TARDE tentou contatar outros quatro alunos do curso, por telefone e redes sociais, mas nenhum deles quis se pronunciar a respeito do ocorrido. Dois integrantes da família do jovem morto também foram procurados, mas preferiram não comentar o caso.
Autorização
De acordo com o comandante de operações dos Bombeiros Militares da Bahia, coronel José Nilton Nunes, o grupo Anjos Vermelhos não está vinculado ao Corpo de Bombeiros da Bahia.
"Não dispomos de trabalho voltado para treinamento de crianças nem autorizamos a abertura deste tipo de projeto. O Anjos Vermelhos é uma iniciativa privada e não temos nenhum envolvimento com o trabalho realizado pelo grupo", afirmou.
Em nota, a assessoria de comunicação da Polícia Militar informou que não há registro de projeto denominado "Bombeiro Mirim" na corporação. Conforme o coronel Nunes, pais e responsáveis devem conhecer o conteúdo programático de cursos deste tipo antes de matricular os filhos.
"Não posso avaliar este curso específico, pois não tenho conhecimento do que é realmente ministrado nas aulas. Porém, como é voltado para crianças e jovens, é preciso que os pais investiguem e tenham referências sobre os professores. É importante, ainda, atentar se o tipo de exercício ou treinamento é adequado para a faixa etária do aluno", disse.