Caso mais grave é do prédio do Instituto de Ciência da Informação, cuja demolição é cogitada
Representantes da Impacto Construções e Empreendimentos Ltda. dizem que a Universidade Federal da Bahia deve R$ 3.898.772,58 por conta de quatro obras. Eles visitaram a sede do A TARDE na terça-feira, 18, após reportagem publicada na segunda-feira, 17, sobre atrasos em obras, problema apurado por sindicância aberta pela própria Ufba.
Procurada pela reportagem, a assessoria da Ufba disse apenas que "o assunto é parte do objeto da comissão de sindicância, constituída pelo reitor João Carlos Salles, ainda em andamento". Uma das obras é a do prédio-sede do Instituto de Ciência da Informação (ICI). Sem explicar o motivo, a assessoria disse que a intervenção está suspensa.
Integrante do Conselho Universitário (Consuni), a professora Sílvia Leite afirmou que em recente reunião do conselho foi informado que o prédio seria demolido. A assessoria da Ufba não confirmou isso, mas, segundo o professor Alexandre Wahrhaftig, doutor em engenharia civil e elaborador do laudo técnico sobre o prédio, o ICI é um caso crítico porque o concreto não oferece resistência.
Avaliação
"É possível recuperar, mas tem que se avaliar se vale a pena porque quase a metade não presta. Terá que ser demolido mesmo. É melhor fazer outro. Possivelmente, a empresa que executou errou", diz ele. O sócio-gerente da Impacto, Raymundo Pinho, nega a ocorrência de erro. De acordo com o advogado da empresa, Permínio Rio Sena, a orientação do projeto orçamentário era utilizar "material inapropriado".
O advogado diz: "O projeto não previa isso, mas, para cortar custos, a Ufba queria que usássemos tábua de terceira categoria e concreto virado em obras com betoneiras. Não é possível que uma obra desse porte se faça com madeira assim porque não resiste". Já Raymundo Pinho observa: "Iniciamos a obra como o projeto orçamentário previa, para mostrar a inviabilidade. Depois, fizemos como a norma manda, para mostrar a diferença". O empresário acrescenta que o ICI estava 52% construído, mas a própria empresa suspendeu a intervenção devido a atrasos nos pagamentos feitos pela universidade. Outras três obras, apontadas por ele como concluídas, também estão com pagamento atrasado.
No caso específico do ICI, o empresário disse ter encontrado três problemas no início. Um, sobre a locação do terreno. "O projeto apresentado por eles não cabia no terreno. Pediram um espaço para ampliação da Facom (Faculdade de Comunicação). Já tínhamos iniciado a obra, o que implicou cortes, custos e mais tempo". Pinho disse que levou a questão à universidade. "A situação emperrou. Foi aí que eu comecei o enfrentamento. Começou uma guerrinha e eles não gostaram". Houve também problemas com a fundação, o concreto usado e desentendimentos com servidores. Com a decisão de suspender a obra, o empresário relatou que a Ufba emitiu advertências e multas, mas que teria revogado. Porém manteve apenas uma multa com relação ao ICI, alegando descumprimento e atraso.
"Eles tentam de todas as formas imputar responsabilidade à gente. A Ufba licitou novamente a obra e contratou outra empresa, que fez alvenarias". O contrato do ICI fora assinado em janeiro de 2010, com prazo de execução de 330 dias e valor inicial de R$ 3.732.192,15. Hoje, segundo o empresário, a Ufba deve somente deste contrato R$ 1.798.092,66.
O imbróglio da Ufba com a Impacto vem de 2012. Em março daquele ano, A TARDE publicou matéria sobre o assunto. O vice-reitor à época, Luiz Rogério Bastos Leal, disse que "o ICI estava orçado em R$ 3,7 milhões" e que a Impacto "executou R$ 1,3 milhão, perdeu a fase de execução e houve o distrato". O sócio-gerente negou a ocorrência. O vice-reitor disse que três sindicâncias foram abertas para "apurar as responsabilidades da empresa Impacto".