Vilma Mota elaborou abaixo-assinado para a prefeitura
Assistir à televisão, usar o computador e até mesmo dormir tornaram-se tarefas difíceis para a professora Vilma Mota, moradora do largo Dois de Julho. Isso por conta da proliferação de muriçocas no bairro, que aparecem, sobretudo, à noite.
A prova da presença dos mosquitos está em todo o corpo de Vilma. Nos braços e pernas é possível ver, não apenas as marcas de picadas, mas também áreas vermelhas provocadas pela coceira causada por uma possível alergia desenvolvida após as lesões.
Para tentar escapar dos insetos, ela chegou a instalar um mosquiteiro, comprou uma infinidade de inseticidas em spray, mas não obteve sucesso.
Após contatar o Departamento de Zoonose da Secretaria da Saúde do município de Salvador e ser informada de que o órgão atua apenas no extermínio de mosquitos da dengue, Vilma e outros vizinhos de bairro decidiram criar uma petição pública exigindo providências dos órgãos municipais.
O documento, que também está disponível na internet, já reúne 300 assinaturas e será entregue ao órgão no próximo dia 17. No momento da entrega do abaixo-assinado, os moradores do bairro pretendem levar faixas e cartazes para a frente da secretaria, no bairro do Comércio, em um ato público batizado de "Xô, muriçoca!".
"A intenção é chamar a atenção para a situação que estamos vivendo hoje. Moro no bairro há mais de 20 anos e nunca vi tamanha quantidade de mosquitos", contou.
Limpeza pública
A situação não está restrita ao centro da cidade. A equipe de A TARDE colheu depoimentos de moradores de bairros como Brotas, Rio Vermelho, Cajazeira XI e Cabula relatando problemas causados pela proliferação de muriçocas.
Em Brotas, próximo à entrada do Horto Florestal, a professora primária Vanessa Filgueiras, 35, precisou instalar telas na janela para proteger o filho João, de 4 anos, das picadas.
"Utilizo três vezes ao dia repelentes. Meu filho tem a pele muito branca, por isso, qualquer picada deixa marcas enormes", diz.
O vendedor Adelmo Ribeiro, que trabalha na rua do Canal, no Rio Vermelho, desenvolveu alergia às picadas. "Ao cair da tarde, a situação piora ainda mais. Não sabemos mais o que fazer para evitar os mosquitos", afirma.
Água parada
Basta um rápido passeio pelo largo Dois de Julho para observar que os mosquitos estão por toda parte, até mesmo à luz do dia. No coreto da praça Inocêncio Galvão, uma fonte de água desativada acumula lixo e água parada, cenário ideal, segundo biólogos, para a proliferação de mosquitos.

No largo Dois de Julho, a fonte do coreto acumula água parada e lixo, favorecendo a proliferação de insetos - Foto: Mila Cordeiro | Ag. A TARDE
Na descida para a rua Gabriel Soares, que dá acesso à avenida Contorno, o lixo espalhado pela calçada também serve de foco para a reprodução dos insetos.
Já no Rio Vermelho, além do próprio canal que dá nome a uma das ruas principais do bairro, poças de água parada em alguns trechos da calçada também servem como criadouros de mosquitos.
De acordo com o biólogo, Marcelo Carvalho, a muriçoca - também conhecida popularmente como pernilongo ou cabeça-de-prego, e cientificamente como Culex quinquefasciatus - pode ser facilmente encontrada em locais com água parada.
Locais que armazenam matéria orgânica e lixo, como canais de esgoto e rios poluídos, ralos, pneus e poças, também podem servir como criatórios, segundo o especialista.
O desmatamento de áreas verdes, frequente nas grandes cidades, também é um fator que contribui com infestações: "Quando uma área verde é desmatada, o habitat dos insetos é destruído".
Embora pareça inofensiva, a picada do inseto pode transmitir doenças como a filaríase, ou elefantíase, que provoca a obstrução de vasos e aumento exorbitante das áreas afetadas.
"Trata-se de uma transmissão rara, mas a muriçoca pode picar uma pessoa infectada pela doença, adquirir o parasita, ao picar outra pessoa, e transmitir a doença", diz.
Clima
Além das condições de higiene e saneamento, o clima também é responsável pela rápida proliferação desse tipo de mosquito. "As larvas são depositadas na água e, no verão, em cerca de 10 dias, são gerados cerca de 100 novos pernilongos", explica.
Este ano, o biólogo atribui a grande proliferação de mosquitos ao forte calor, típico do verão, que se mostrou antecipado desde os meses de setembro e outubro.
"O clima tem se apresentado atípico nos últimos meses de 2014. Nesse período, as temperaturas deveriam estar em uma média de 25 a 29 graus. Mas o que temos visto é uma elevação para até 35 graus em algumas cidades do estado", explica.
Para o próximo verão, ele acredita que a quantidade de mosquitos aumente, caso o calor persista.