Promotora quer saber se houve alguma contratação
O Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) abriu inquérito civil para apurar o caso da suposta seleção de mulheres para trabalhar no Camarote Skol durante o Carnaval deste ano. Segundo o anúncio, as interessadas deveriam, inclusive, enviar fotos nuas.
De acordo com a promotora do MP-BA, Márcia Teixeira, a empresa Ambev e a produtora 2GB, responsáveis pelo camarote, serão convocadas pelo MP-BA para prestar esclarecimentos em reunião prevista para quarta-feira, 14.
Após a convocação ter sido publicada no perfil do Facebook da agência Mega Polo Models Internacional (com sede em São Paulo), o caso gerou polêmica porque a agência pedia para as interessadas "no mínimo 15 fotos, entre elas, com traje de legs (sic), short com top, macacão, de biquíni ou lingerie. (fotos nuas p/ Ficha Rosa)".
Na postagem, que já foi apagada, foram destacados dois perfis para a seleção: as fichas rosas, com cachê de R$ 8 mil e ajuda de custo, e as brancas (R$ 1 mil). No entanto, não foram descritas quais atividades as selecionadas realizariam. "Beleza é fundamental. Corpo e rosto", ressaltou a publicação.
Ambev nega
Por meio de nota, a Ambev informou que "não tem qualquer relação com os recrutamentos em questão e repudia veementemente qualquer prática que não esteja em total conformidade com a lei". A empresa destacou ainda que "tomará as medidas legais cabíveis para evitar que suas marcas sejam usadas de forma indevida". Para A TARDE, a produtora 2GB havia negado também o recrutamento.
Segundo a promotora Márcia Teixeira, o inquérito foi aberto na última sexta, 9, após a instituição receber ofícios da Secretaria Estadual de Política para as Mulheres e da Superintendência de Políticas para Mulheres. Na segunda, 12, ainda conforme Márcia Teixeira (titular do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher - Gedem), representantes locais das empresas seriam convocados para uma reunião, prevista para amanhã, com o objetivo de saber se houve algum tipo de contratação da agência.
Também é apurado se o perfil da postagem é falso. Caso seja, a intenção é verificar de onde foi feita a publicação. A agência Mega Polo foi procurada por A TARDE pelo telefone disponibilizado na página, mas as ligações não foram atendidas. O caso também é apurado pelo Ministério Público do Trabalho.
A promotora contou ainda que, ano passado, teve conhecimento de uma ocorrência em um camarote - o nome não foi revelado - em que, no final da noite, as mulheres contratadas para distribuir informativos foram assediadas. "Homens que extrapolaram no álcool fizeram propostas e começaram a passar a mão nas garotas. Duas delas denunciaram para o observatório contra discriminação e violência", disse.
Secretária
A titular da Secretaria Estadual de Políticas para Mulheres, Olívia Santana, encaminhou ofício para o procurador-geral do MP-BA, Márcio Fahel. "Pedimos providência em relação à investigação dessa denúncia e para chegar à autoria dessa seleção que, no mínimo, incita à prostituição. Por que tantos atributos corporais para essas mulheres? Por que fotos de lingerie e nua?", questionou a secretária.
A superintendente de Política para as Mulheres, Mônica Kalile, disse que recebeu, via whatsapp, o anúncio e que viu "aspectos que não competem para a pessoa trabalhar de forma lícita". E observou: "Pede fotos nuas. Há uma incongruência no convite de emprego temporário. Por isso, pedimos ao órgão competente para investigar se é verídico e se há indícios de prostituição e discriminação racial", finalizou.