O velório da escritora baiana ocorreu na sede do IGHB, localizado na Piedade
Familiares, amigos, alunos e confrades foram, durante a tarde e noite desta quinta-feira, 14, prestar homenagem à historiadora Consuelo Pondé de Sena. O corpo da também presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia - que será cremado nesta sexta-feira, 15, às 11h, no Jardim da Saudade (Brotas) - foi velado na sede da instituição, na praça da Piedade. .
Para Eduardo Morais, vice-presidente do IGHB, trata-se de "um momento de perda, tristeza e reconhecimento". "Consuelo, com seus 81 anos de idade, há mais de 75 frequentava esta casa já que, quando criança, vinha na companhia do pai. Há 19 anos, preside essa instituição e, se esta casa está de pé, com seu rico acervo à disposição de pesquisadores de todo o mundo, agradecemos a ela. Uma grande guerreira da cultura, um exemplo", recordou Morais.
Amigas desde os tempos de colégio, há mais de 60 anos, a professora e etnolinguista Yeda Pessoa de Castro resumiu que Consuelo era "uma das figuras mais notáveis da intelectualidade baiana". "Ela tinha uma força incrível, foi uma mulher extraordinária. Sabia tudo sobre a história da Bahia, tomava conta desse instituto como ninguém. Perdemos uma mulher batalhadora. Devemos nos orgulhar muito dela", afirmou.
Mulher marcante
A poeta Myriam Fraga, diretora da Fundação Casa de Jorge Amado, afirmou que a Bahia perdeu "uma figura feminina marcante". "Ela tinha uma juventude interior, uma imagem de força. Era uma pessoa que estava sempre disposta, alegre. Consuelo foi uma grande líder", disse.
Lúcia Pondé, irmã mais velha da historiadora, lembrou que sempre foi mais calma, diferente de Consuelo. "Ela sempre gostou de brincadeira de menino, sempre se identificou mais com nosso irmão", contou. Ela falou, ainda, sobre a relação com o IGHB: "Minha irmã dava tudo por esse lugar, era sua paixão".
Não à omissão
Em depoimento emocionado, a presidente da ALB, Evelina Hoisel, falou sobre a perda. "É uma lacuna imensa, não só para a academia, mas para a nossa cultura. Ela tinha compromisso com a cidadania e com as instituições onde atuava. Omissão nunca fez parte da trajetória de Consuelo", frisou.
"Eu era amigo de Consuelo há 50 anos", lembrou o professor emérito e membro da ALB Edivaldo Boaventura. "Ela era uma mulher de fibra, corajosa e determinada, culta e solidária. Tinha o instituto como a segunda casa. Promovia a cultura baiana, que perde com a morte dela", disse Boaventura.
Para o professor aposentado da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Roberto Albergaria, amigo próximo, a perda de Consuelo deixa lacuna irreparável em vários sentidos, principalmente na organização da festa do 2 de Julho.
"Perdemos a cabocla branca, atualização reencarnada e recolorida da ancestral Catarina Paraguaçu do cortejo. Corajosa e graciosa madrinha penachuda da festa mais representativa do espírito combativo da velha Cidade da Bahia, agora tapera caindo aos pedaços", adornou Albergaria.
O docente contou que, quando voltou do exílio, ela foi uma das poucas pessoas que o ajudaram a vencer a burocracia da universidade para agilizar a contratação dele no concurso em que tinha sido aprovado. "Tinha a generosidade que as pessoas perderam".
"As pessoas não são substituíveis. Professora Consuelo era a alma do instituto. Fui aluno dela, depois trabalhamos juntos e me tornei um amigo", afirmou o jornalista e escritor Sérgio Mattos.
Consuelo deixa quatro filhos: a psicóloga Maíra, a assistente social Maria Luísa, o administrador Maurício e o psiquiatra e professor da Ufba Eduardo Pondé de Sena, além dos quatro netos (Fernanda, Pedro, Carolina e Mariana) e dois bisnetos (Lucas e Mateus).
Segundo Eduardo Pondé de Sena, Consuelo estava internada, desde o último dia 3, no Hospital Português. Ele disse que a mãe chegou a ser entubada e teve falência de múltiplos órgãos.
No ano passado, Consuelo se submeteu a uma cirurgia do coração e, quando piorou, tinha publicado alguns textos falando da fragilidade em relação à doença.
"Era uma mãe bastante amorosa, mas não era permissiva, dava limites e sempre se preocupou com a formação, com a educação", lembrou Eduardo Pondé.
* Colaboraram Cleidiana Ramos, Luana Almeida, Luis Fernando Lisboa e Mariana Mendes