A entrega das oferendas ocorreu na praia de Itapema, distrito de Santo Amaro
O centro de Santo Amaro (distante a 72 quilômetros da capital baiana) tornou-se, por um dia, a Meca do povo de santo. De todos os lados, a cada minuto, nativos e visitantes chegavam para a celebração, vestidos com suas roupas e torços brancos e coloridos, presos milimetricamente ao corpo e à cabeça.
Em meio à feira livre e ao funcionamento de bares, açougues e restaurantes, o xirê (roda de dança em reverência aos orixá) não silenciava. Nem a forte chuva atrapalhou a festa. Todos os caminhos de terra e as águas do Rio Subaé levavam ao Mercado de Santo Amaro, na praça Municipal da cidade, onde um grande "candomblé de rua" foi montado.
Foi assim o último dia de festejos do Bembé do Mercado, celebração que há 126 anos comemora o fim da escravidão negra no Brasil e é registrada como Patrimônio Imaterial da Bahia pelo Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural (Ipac).
Iniciada na última quarta-feira, data da abolição, neste ano a festa teve o seu dia derradeiro neste domingo, 17, com a tradicional entrega de presentes às yabás Iemanjá, Oxum, Obá, Ewá e Nanã.
A família Veloso foi representada no barracão do Bembé por Mabel, Clara Maria e os filhos da segunda, que presentaram as orixá femininas com flores, sabonetes e perfumes.

Adeptos do culto afro entregaram flores e perfumes para as yabás, as deusas das águas (Foto: Mila Cordeiro l Ag. A TARDE)
Saudades
"Crescemos sabendo a importância da festa e ouvindo histórias ", contou Mabel, que, apesar de não ser iniciada no candomblé, é identificada como filha de Nanã. "Hoje é um dia de lembrança de minha mãe, que não perdia a festa, chegava aqui cedo, dividia o bolo. Essa festa está misturada com um pouco de saudade", revelou.
O babalorixá José Chaves, o pai Pote, sacerdote do Ilê Axé Oju Onirê, terreiro membro da Associação do Bembé, que organiza a celebração, lembrou da importância da comemoração para o povo negro.
"É uma festa de resistência e de afirmação contra o racismo e a intolerância religiosa", ele destacou.
Já passavam duas horas da metade do dia quando os presentes foram colocados no mar de Itapema, distrito praiano de Santo Amaro. Um protesto de moradores contra o abandono da região pelo prefeito Ricardo Machado (PT) chegou a impedir a passagem dos balaios, mas a situação foi contornada.