Corpo de Márcio Neri foi enterrado nesta quarta
Em meio a revolta e dor pela perda, familiares e amigos do caminhoneiro Márcio Neris dos Santos, 35, carregam a certeza de que o rapaz foi morto injustamente durante ação desastrosa da Polícia Federal (PF), na última terça-feira, 16, no Jd. Nova Esperança.
Ele morreu durante a operação Carga Pesada, que prendeu 16 pessoas por desvio de cargas no Porto de Aratu. Sob comoção, o corpo de Márcio foi sepultado, nesta quarta, 17, no Cemitério Bosque da Paz, em Nova Brasília.
"Ele é inocente. Bandido são eles [policiais], bandidos de farda. Invadiram a casa do meu irmão sem mandado e o mataram", desabafou, chorando, a técnica de enfermagem Daiana Neris, 32.
Segundo ela, policiais arrombaram a casa de Márcio por engano, após um porteiro informar que a pessoa investigada pela PF morava no imóvel. Márcio residia no apartamento 004 do Condomínio Jardim das Orquídeas. O alvo da PF, no 104.
Daiana ainda disse que o porteiro indicou o local errado para dar tempo de o suspeito fugir. Familiares da vítima afirmam que o porteiro recebe R$ 200 por mês para não falar sobre os roubos de carga e que teria sido espancado pelos policiais após Márcio ser baleado.
Vizinho de Márcio, o professor Uellington Bastos, 49, negou a acusação feita pela mulher, disse que o porteiro é um bom rapaz e trabalha no condomínio há 11 anos. "Podem até abrir uma sindicância para saber a verdade, mas acredito que, agora, ele está assustado e deprimido", avaliou. Ele confirmou a versão do espancamento.
Daiana contesta a versão apresentada pela polícia, segundo a qual Márcio foi morto após reagir, armado, à abordagem. "Cadê a arma? Não há, eles não apresentaram a arma. Tem que fazer um exame na mão do meu irmão", declarou.
A polícia sustenta a própria versão e reafirma que, quando os agentes chegaram ao prédio, Márcio estava no corredor com um revólver calibre 38 com numeração raspada. teria apontado a arma para os policiais e foi orientado a se render. Contudo, negou-se. Segundo a PF, o revólver não foi apresentado porque vai passar por perícia.
Com relação à informação de que o porteiro indicou o apartamento errado, a assessoria da PF disse que as investigações da Operação Carga Pesada foram feitas com antecedência e os policiais sabiam exatamente para onde estavam indo. Eles foram atrás de dois homens que moram no apartamento 104. Apenas um foi localizado. A PF negou que agentes tenham agredido o porteiro.
Nesta quarta à noite, telejornal da TV Bahia informou que o porteiro que atendeu os agentes federais afirmou que eles mataram um inocente.