Seminário ocorreu na sede do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra no Pelourinho
As baianas de acarajé, Patrimônio Imaterial da Bahia, são as primeiras mulheres negras a empreender em terras brasileiras. Com a apresentação da Lei nº 13.208 a representantes da categoria e de outros ramos, nesta quarta-feira, 29, a expectativa é que o fomento ao empreendedorismo negro exista na prática.
Sancionada em dezembro do ano passado pelo então governador Jaques Wagner, e lei da Política Estadual de Fomento ao Empreendedorismo de Negros e Mulheres foi o foco do seminário "Mulher Negra e Empreendedorismo", realizado pela Secretaria de Promoção da Igualdade Racial (Sepromi).
O evento ocorreu na sede do Conselho de Desenvolvimento da Comunidade Negra (CDCN), no Pelourinho. O objetivo foi escutar as demandas dos segmentos alvos da Política Estadual de Empreendedorismo de Negros e Mulheres.
Coordenadora dessa política na Sepromi, Elísia Santos explica que a principal meta do órgão é promover o acesso desses grupos às linhas de crédito, a capacitação profissional, além de elaborar um plano de escoamento da produção étnico-racial.
"Precisamos discutir porque damos R$ 380 numa jaqueta de uma grife de luxo, mas não queremos valorizar a roupa feita com um tecido africano", provoca Elísia.
Segundo a gestora, convênios com instituições privadas e bancos, como o Desenbahia, podem ser efetivados para desburocratizar o acesso aos recursos.
A ideia é fomentar produções artesanais, culturais, de agricultura familiar, entre outras. Um dos encaminhamentos da reunião, proposto pelos participantes, foi a inserção dos produtos culturais como objeto de empreendedorismo.
"A produção cultural tem que gerar renda para quem a faz, não pode mais ser só por ideologia", ponderou Jussara Santana, da Coordenação Nacional de Entidades Negras (Conen).
Melhorias
A presidente da Associação das Baianas de Acarajé, Mingaus, Receptivos e Similares do Estado da Bahia (Abam), Rita Santos, participou da discussão. Para a presidente da entidade que representa cerca de 3.500 baianas só em Salvador, sem contar as do interior, "é preciso pensar em ações que tenham impacto real" na vida dessas trabalhadoras.
"A baiana quer um ponto decente, uma roupa decente, quer aprender a promover seu negócio, levando mais público", explica Rita, defendendo também ações de preservação cultural do ofício.
As baianas começaram a mercar -comprar e produzir para revender- ainda durante o período da escravidão. No entanto, apesar de fortalecer o espírito empreendedor no Brasil, elas nunca tiveram apoio do estado para a manutenção do ofício histórico.
"Precisamos da proteção à tradição, diante do crescimento de pessoas nas ruas vendendo 'bolinho de Jesus' como se fosse acarajé, ferindo nosso trabalho", afirmou a presidente da Abam.