Jovem foi agredido em várias partes do corpo, como na cabeça
A família de um adolescente de 17 anos, integrante da comunidade quilombola Rio dos Macacos, na Base Naval de Aratu, em Salvador, acusa militares da Vila Naval de agredir o rapaz. De acordo com Rosimeire Silva, líder da comunidade, o sobrinho voltava para casa com um primo e dois tios quando foi abordado por oficiais da Marinha.
"Vários militares à paisana com arma na mão cercaram meu sobrinho, xingando e dando murro nele. Ele conseguiu correr, mas um carro foi atrás e deu um tombo nele, que caiu no chão. Muita gente foi em cima dele", acusa Rosimeire.
Ela disse que o sobrinho sumiu depois da agressão e, quando foi achado, estava dentro de um veículo, sangrando. "Quando a gente chegou, um policial militar falou que tinha salvo meu sobrinho da morte", relata.
No dia da ocorrência, no domingo, 2, a Superintendência de Telecomunicações das Polícias (Stelecom) registrou que uma viatura da PM foi para o local depois de receber uma denúncia de que quatro homens armados estavam agredindo um morador de rua. Mas, na verdade, segundo a líder da comunidade, trata-se do sobrinho.
Os PMs levaram o jovem para o Hospital do Subúrbio, onde foi atendido e precisou levar pontos na cabeça. Depois, ele foi levado para a delegacia, onde ele prestou queixa de agressão. De acordo com Rosimeire, o sobrinho reconheceu alguns dos envolvidos na ação.
Inquérito
O 2º Distrito Naval disse que instaurou inquérito para apurar o episódio, mas informou, por nota, que as primeiras informações são de que "integrantes da Comunidade Rio dos Macacos, aparentemente embriagados, assediarem uma adolescente residente na Vila Naval, o que teria motivado o desentendimento e posterior confronto com alguns moradores do local, que entretanto negaram qualquer agressão aos envolvidos".
Rosimeire nega que o sobrinho tenha consumido bebida alcoólica e que tenha paquerado a adolescente. De acordo com ela, o rapaz cumprimentou uma amiga da jovem, que ele conhecia, mas não falou com a adolescente. "O pai levou a filha para a delegacia e, quando chegou lá, ela negou que tenha sido assediada por meu sobrinho", diz
A quilombola disse que também prestou queixa na Polícia Federal (PF), já que a Vila Naval é área de União. A assessoria da PF, no entanto, não se pronunciou sobre o caso.
Disputa
A comunidade vive em conflito com a Marinha desde a década de 70, por conta da disputa de terra onde os quilombolas vivem. O Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) reconheceu o território como quilombola, mas o único acesso para a comunidade é por dentro da Vila Naval, o que incomoda o grupo.
"A gente é perseguido dentro da Vila a partir do momento que sai de casa. Queremos que a estrada (que permitiria o acesso sem passar pela Vila) saía logo", pede Rosimeire.