Morador da Fedração, Anderson, de 22 anos, economiza para realizar seus desejos
A disputa é acirrada quando se trata de eleger o maior sonho de consumo do gueto, mas o smartphone de última geração ganha. Relógio, estilo mofador dos Power Rangers, e batidão também têm lugar garantido no pódio. Se por muito tempo 'favelado' foi sinônimo de pessoa sem grana, cada vez mais quem mora nos bairros periféricos mostra que consome - e muito!
O auxiliar de produção Anderson Oliveira, 23, é um exemplo do perfil consumista do gueto: boné (R$ 75), camiseta (R$ 98), batidão de ouro (R$ 500), pulseira (R$ 300), tênis de marca (R$ 400) e relógio (R$ 150). Somando a calça jeans e as peças íntimas, é possível calcular que Lindinho, como é conhecido, desfila com um figurino de R$ 2 mil.
Para o sociólogo Cristiano Freitas, a ostentação da periferia é uma forma de buscar reconhecimento econômico, além de reforçar a questão da identidade. "O 'consumo exagerado' é somente uma forma de interagir com a sociedade, de dizer: 'Se eles podem, eu também posso'", avalia.
A ostentação da favela não se resume ao modo de vestir - Xbox para jogar, TV com canal fechado e uma moto na garagem também integram a lista de objetos de desejo. Enquanto muitos querem ter itens de valor, ainda há aqueles que buscam o diploma. "Gosto de coisas caras, mas quero mesmo é entrar na universidade, ter um bom emprego e formar minha família. Um vida melhor", resume Ítalo Pereira, 19.
No quesito sonho de consumo, a galera da orla pensa diferente. Morador da Barra, o estudante Rafael Novaes, 18, coleciona viagens, a maioria internacional: "Gosto de conhecer locais inusitados".

Eduardo exibe batidão poderoso: "Chama atenção e dá uma moral" (Foto: Joá Souza l Ag. A TARDE)
Batidão é poder
Esqueça a famosa frase de Robyssão: o poder não está na 'tcheca', mas no batidão. Ao menos, para os jovens que moram no gueto. Quanto maior e mais pesada a corrente que enfeita o pescoço, mais respeitado e poderoso o cara será considerado.
Morador do Engenho Velho de Brotas, o repositor comercial Eduardo Ubiraci, 36, exibe com orgulho seu batidão. São 50 cm de circunferência e cerca de 300g de peso, além de um pingente em forma de crucifixo.
"Sempre usei correntes, essa tem um ano. As mulheres gostam, mas quem repara mais são os caras. Todo mundo quer saber onde comprei, quem fez pra mim... Chama atenção e dá uma moral", explica.
Para o sociólogo Cristiano Freitas, ainda que seja um estilo padronizado, o uso de batidões é mais uma forma de reafirmar a identidade e o pertencimento a um grupo. "É o atestado do poder do consumo", resume.