Cauã Gabriel e sua mãe Cláudia Santos
Independentemente da questão racial, a orientação é que os pais se perguntem: uma criança realmente precisa frequentar um salão de beleza tão precocemente?
Alisar o cabelo, pintar as unhas, passar batons, ter uma agenda cheia de compromissos, usar saltos altos. Tudo isso, somado a outros fatores, pode levar os pequenos a viverem a chamada adultização precoce, algo que vai muito além de uma simples brincadeira de criança.
"Tentar ficar parecido com o pai ou a mãe, esporadicamente, faz parte do desenvolvimento e do imaginário infantil, mas adotar um comportamento adulto no cotidiano e não se identificar mais com objetos e tendências do mundo da criança, é patológico", alerta a pediatra do Hapvida Saúde Luana Dias Santiago.
Segundo ela, a adultização precoce não é saudável e deve ser trabalhada nas famílias e na sociedade. "É importante incentivar o que é próprio da idade para que as etapas do desenvolvimento não sejam negligenciadas. As consequências do abandono das experiências que são próprias da infância podem gerar conflitos psicológicos por toda a vida".
A psicóloga Odile Britto chama a atenção para o risco da erotização precoce. "Há um apelo sexual muito forte nas propagandas, nas novelas, na música. O comportamento adulto de uma criança não deve ser visto como algo positivo. Os pais precisam filtrar o que os filhos veem e estabelecer limites".
A profissional afirma que a adultização precoce pode trazer sérias consequências para a criança. "O excesso de vaidade e atividades pode gerar, por exemplo, uma criança extremamente ansiosa, consumista e que está sempre recorrendo a coisas externas para se satisfazer", enumera.
Tempo livre
A orientação para os pais é que valorizem o tempo livre e as brincadeiras infantis, uma recomendação que a mãe de Cauã Gabriel, 8, Cláudia Viviane Santos, 37, busca seguir.
"Crio o meu filho como fui criada, respeitando cada etapa e fase da vida. Só pude fazer a unha e a sombrancelha depois que completei 15 anos. Meu filho tem 8 anos e se comporta como um menino de sua idade. É assim que deve ser", diz Cláudia, que é pedagoga.
Ela conta que uma das formas de valorizar essa fase é deixá-lo afastado dos aparelhos eletrônicos, algo raro nos dias atuais. "Ele não tem celular. Não acho que um menino de 8 anos, que nem sabe o valor de um celular, precise de um aparelho. Ele só terá quando estiver maior. Não é porque os outros têm que ele precisa ter também", pontua.