Jair Mendonça Jr.
Campo Santo é o maior cemitério da capital baiana
Inúmeras pessoas devem ir aos cemitérios rezar pelos seus entes queridos nesta segunda-feira, 2, dia dedicado aos finados. Durante a visita, que tal um passeio cultural por obras arquitetônicas e esculturais de valor histórico?
Isso mesmo, além da aparência triste e monótona, pelo menos dois cemitérios em Salvador (o Campo Santo, na Federação, e o dos Ingleses, na Ladeira da Barra) exibem ricas manifestações artísticas expostas nos túmulos e mausoléus que abrigam os restos mortais de finados abastados.
Em ambos, os estilos renascentista, barroco, gótico, moderno e contemporâneo estão presentes nas sepulturas, que são verdadeiras obras de arte, alvos de visita e turismo.
Considerado o maior cemitério a céu aberto do Norte, Nordeste e Centro-Oeste do Brasil e inaugurado em 1826, o Campo Santo atrai cerca de 3.500 visitantes por mês.
Tamanha expressividade motivou em 2007 a criação do Circuito Cultural, mantido pela Santa Casa de Misericórdia da Bahia. São cerca de 200 obras catalogadas, localizadas em sete quadras. Obras produzidas por artistas famosos e reconhecidos, como uma do mausoléu de Octávio Mangabeira, assinada por Mario Cravo Júnior.
"Nosso objetivo principal é difundir a arte e criar um núcleo de pesquisa acadêmica dentro do cemitério. Com isso, informar à sociedade baiana sobre o patrimônio artístico presente no local", disse a museóloga e coordenadora do circuito, Jane Palma.
De acordo com Jane, a Estátua da Fé, por exemplo, foi tombada pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1936. Ela foi esculpida
em 1865, em um único bloco de mármore de Carrara, pelo alemão Johann Van Halbigg.
"Com 1m92 de altura, sem contar a base, é impressionante a riqueza de detalhes desta obra. Ela e a Capela de Nossa Senhora da Piedade são os destaques do circuito", pontua Jane.
Aberta ao público, a visita ao Circuito Cultural pode ser guiada quando agendada previamente. Pelo valor de R$ 5 por pessoa, o grupo de visitantes recebe informações sobre a simbologia e linha evolutiva das obras arquitetônicas e esculturais. Escolas e universidades públicas têm gratuidade.

Esculturas são encomendadas por famílias abastadas (Foto: Joá Souza l Ag. A TARDE)
Ingleses
Já no Cemitério dos Ingleses basta tocar um sino que fica no portão principal para ter acesso ao local e contemplar túmulos como o do médico John Ligertwood Paterson. E de quebra, desfrutar da privilegiada vista para a Baía de Todos-os-Santos.
Pioneiro no combate à cólera e febre amarela, Paterson ajudou a criar o Hospital de Isolamento, hoje Couto Maia. A principal razão da existência do Cemitério Britânico é a diferença de religião. À época, a Igreja Católica não realizava enterros de não católicos. E os ingleses tinham o protestantismo como religião oficial.
Encoberto por árvores, entre a igreja Santo Antônio da Barra e o Yacht Club da Bahia, o cemitério foi tombado em 1993 pelo governo baiano e restaurado em 2006, com recursos do estado e da Fundação Clemente Mariani. Desde 2010, é administrado pela Associação da Igreja de São Jorge e Cemitério Britânico, uma ONG sem vínculo direto com a paróquia anglicana.