Diversos comerciante da Rua Antônio Viana pagam aos traficantes semanalmente
Para comerciantes e mototaxistas da localidade de Cosme de Farias, em Brotas, trabalhar em paz só mediante pagamento semanal aos traficantes da área. A extorsão é feita em estabelecimentos localizados no entorno da primeira passarela da Avenida Bonocô, no sentido Centro, e na Rua Antônio Viana, também localizada nessa região.
"Eles mandam assaltar quem não paga. No caso dos mototaxistas, só rodam se pagar. Eles pagam R$ 50 por semana", disse a proprietária de um estabelecimento. Por medo de represálias, ela só concordou em falar sob anonimato.
Nem o posto de combustíveis, localizado ao lado da entrada da Rua Antônio Viana, escapou à extorsão dos traficantes. "Essa cobrança é desde o ano passado. Faz cinco meses que o pessoal do posto paga R$ 250 por semana, R$ 1 mil por mês. Tem que pagar ou os frentistas sofrem", contou um morador, referindo-se aos assaltos sofridos por aqueles que se recusam a pagar.
Um comerciante da Rua Antônio Viana disse que paga o valor imposto pelos bandidos desde que abriu o estabelecimento. "Pago R$ 40 por semana, R$ 160 por mês. Tem seis meses que estou aqui e essa foi a primeira coisa que eles vieram me dizer quando cheguei, que eu tinha que colaborar com a segurança. Que segurança?", questionou.
Os depoimentos revelam que o valor cobrado depende do porte de cada estabelecimento e varia de R$ 40 a R$ 250. Conforme os relatos, são os próprios traficantes que vão fazer a cobrança do dinheiro, semanalmente.
Há pouco mais de um ano, traficantes tentaram extorquir o dono de uma loja, localizada no entorno da passarela da Avenida Bonocô no sentido Centro, mas o proprietário sequer os recebeu.
"Eles vinham aqui, ligavam, insistiam mesmo. Mas a gente não aceitou. Até tentaram nos assaltar, mas os seguranças daqui impediram a ação deles", contou uma funcionária, que pediu anonimato.
Morte de taxista
Um morador da localidade de Campinas de Brotas, em Brotas, que fica do outro lado da passarela, afirmou que o mototaxista Edson de Jesus Santos, de 43 anos, foi assassinado porque se recusou a pagar os R$ 50 exigidos pelos traficantes de Cosme de Farias para poder trabalhar na região.
Edson foi assassinado a tiros na manhã do dia 23 de dezembro de 2015, enquanto aguardava passageiros no lado da passarela que dá acesso à Campinas de Brotas.
A morte dele é investigada pelo Departamento de Homicídios (DHPP). A assessoria de imprensa da Polícia Civil não informou sobre o andamento da investigação. O Departamento de Comunicação da Polícia Militar informou que a 26ª CIPM (Brotas) "não tem registro sobre este tipo de ação delituosa".
Entenda o caso
A cobrança, no entanto, não é estendida a todos. A reportagem conversou com alguns comerciantes e mototaxistas que afirmaram não serem vítimas da cobrança. "Algumas pessoas, como eu, não são cobradas. Nunca chegaram aqui para falar sobre isso. Não sei se é porque tenho parentes que têm amizade com gente deles. Não sei. E não quero saber o motivo", afirmou a dona de um comércio.
O estabelecimento dela foi assaltado duas vezes este ano, mas ela afirmou não saber se os assaltantes eram da localidade.