Atos pela afirmação de direitos da população LGBT têm sido realizados para chamar a atenção
O Ministério Público da Bahia (MP-BA) lançou, nesta quinta-feira, 8, a campanha Famílias Contra a Homofobia e a LGBTfobia. A iniciativa ocorreu durante a realização do seminário Diga Sim ao Amor, como parte do 2º Encontro das Mães pela Diversidade na Bahia, na sede do órgão, no bairro de Nazaré.
Coordenadora do Grupo de Atuação Especial em Defesa da Mulher (Gedem) e da População LGBT, a promotora de Justiça Lívia Santana Vaz informa que a campanha ganhará as ruas por meio de materiais impressos, como banners, outdoors, além de ter veiculação nas redes sociais em ambiente virtual.
"A ideia é debater os efeitos da violência na vida das pessoas que fazem parte da população LGBT", explica a promotora. Segundo ela, um dos principais objetivos é "discutir o papel do poder público no combate a esse tipo de comportamento, além de apresentar propostas para a atuação das instituições".
Para Lívia Santana Vaz, a população LGBT sofre a violência em diversas dimensões: familiar, social e institucional. "Especialmente quando o sistema de Justiça se omite em tratar da temática, este também está cometendo uma violência", avalia.
Com base em informações do Disque 100 (canal de denúncia), a promotora de Justiça afirma que a maior parte dos casos de violência LGBT parte do núcleo familiar. "Por isso, a importância de debater esse assunto juntamente com a sociedade e as famílias".
Dados policiais apontam que, de janeiro a julho deste ano, 22 assassinatos por motivação homofóbica ocorreram na Bahia, do total de 147 casos no Brasil. O estado ocupa a segunda posição nacional, segundo dados de 2015, quando foram registradas 33 mortes, atrás apenas de São Paulo.
A coordenadora do Gedem lamenta não haver, ainda, uma legislação que criminalize a violência por homofobia. "Infelizmente, temos projetos de lei, contudo carecemos de uma legislação específica que criminalize a homofobia", aponta a coordenadora.
Relatos
O seminário também serviu para o compartilhamento de histórias de violência, dor, superação e revisão de conceitos pessoais das famílias cujos membros fazem parte da população LGBT.
Coordenadora regional do grupo Mães pela Diversidade na Bahia, a secretária executiva Inês Silva, 48, passou a militar pela causa LGBT depois de compreender a condição humana do casal de filhos homossexuais. Antes, porém, tentou se matar por duas vezes, uma em cada revelação.
"Não foi fácil. Tentei suicídio em cada uma das descobertas. Até entender que o problema não estava neles, que são seres humanos comuns, mas em mim", contou. "A partir disso, passei a conversar com outras famílias para que não se machuquem como eu fiz com a minha", completou.
Com medo da violência da sociedade, Inês diz que não consegue dormir enquanto o filho não retorna para casa à noite.
Já o técnico agrimensor Avelino Fortuna, 61 anos, foi privado de ter a felicidade da volta do filho para casa, pois o rapaz foi assassinado em Pernambuco.
Na noite de 18 de novembro de 2012, Lucas Fortuna foi espancado e teve o corpo jogado ao mar na cidade de Cabo de Santo Agostinho, região metropolitana do Recife. "Ele foi a trabalho, mas sofreu uma violência tamanha que o sepultamento foi com o caixão fechado", lamentou.
Para ele, "o pai que não sai do armário é corresponsável pela assinatura do atestado de óbito do filho porque ele joga o filho na rua, sem preparo, sem condições de enfrentar a violência física que encontrará fora de casa. É preciso assumir a responsabilidade como pai, acolher", aconselha.