Visitantes fizeram fila para reverenciar e pedir bênção à sacerdotisa de 91 anos
A Sociedade Cruz Santa do Axé Opô Afonjá comemorou 80 anos, nesta terça-feira, 8, com uma cerimônia que também homenageou as quatro décadas sob liderança da ialorixá mãe Stella de Oxóssi. O evento foi prestigiado por autoridades, líderes religiosos, pesquisadores e adeptos do candomblé.
Aos 91 anos, sentada em uma cadeira, mãe Stella recebeu os visitantes, que formaram fila para, um a um, parabenizar, agradecer e pedir bênçãos à líder religiosa da casa fundada em 1936 por mãe Eugênia Anna dos Santos, no mesmo dia em que ficou marcada a Revolta dos Búzios de 1798.
Antes do início da cerimônia, a sacerdotisa lembrou das dificuldades enfrentadas ao longo do tempo à frente do Opô Afonjá. Para mãe Stella, o trabalho desenvolvido nessas décadas veio acompanhado de uma grande responsabilidade para cuidar das pessoas que buscavam apoio espiritual no terreiro.
“São 40 anos lutados e vencidos, com muito trabalho, muita preocupação, grande responsabilidade por atender muitas pessoas”, afirmou. “Com esforço para que todos nós tivéssemos compromisso com o bem, com a verdade. Foi preciso ter sangue forte para chegar até aqui”, completou.
Guia além-terreiro
Militante do movimento negro, o vereador Sílvio Humberto (PSB) ressaltou que, nesse período, mãe Stella administrou coisas, pessoas e energias. “O que exige grande responsabilidade. Eu costumo dizer que ela é um farol que nos guia além das fronteiras do terreiro”, afirmou o vereador.
Para o sociólogo Ailton Ferreira, esse é o registro de um momento histórico da cultura afro-brasileira. “Mãe Stella é uma feminista, mas não do feminismo tradicional. Assim como ocorreu nas demais casas, ela fez do terreiro espaço de reconstrução das famílias separadas pela diáspora”, diz.
O pastor protestante Djalma Torres celebrou a sobrevivência das religiões de matriz africana, frente à necessidade de dar continuidade ao combate à intolerância. “Apesar dos avanços, essa é uma prática que ainda persiste por causa da ignorância, fundamentalismo e poder”, avaliou.
Titular da Secretaria de Promoção da Igualdade Racial do estado, Fabya Reis destacou o trabalho não só religioso, mas social do Afonjá. “Essa casa tem contribuído para preservar nosso patrimônio material e imaterial, com ensinamentos da cultura afro-brasileira e o combate à intolerância”, disse.
Seminário e livro
O dia de celebrações teve, ainda, a realização do Seminário Aponjá, com conferências do professores-doutores Vanda Machado e Muniz Sodré, além do lançamento do livro Mojubá, Obá Biyi: patrimônio cultural afro-brasileiro, do escritor Marcos Santana.