Partindo do fim de linha do Engenho Velho da Federação, a caminhada aconteceu pelas ruas do bairro
Centenas de pessoas se vestiram de branco e foram às ruas do Engenho Velho da Federação, na tarde desta terça-feira, 15, para a XII edição da Caminhada pelo fim da violência, da intolerância religiosa, pela paz. A concentração ocorreu às 14h, no final de linha do bairro, onde está localizado o monumento em homenagem à Mãe Ruinhó.
Criada em 2004, em decorrência de retaliações feitas por igrejas neopentecostais contra os terreiros do bairro, a Caminhada é organizada pelo próprio povo de santo que reside e celebra cultos no local.
“A importância dessa caminhada é a de trazer paz e mostrar que a intolerância religiosa existe sim”, diz a manicure Ludmila dos Santos Bastos, 35, moradora do Engenho Velho há mais de 30 anos.
“Meu terreiro é um dos organizadores, e a gente se engaja, se doa mesmo”, exprime a jovem.
Este ano, a passeata não apenas abordou questões religiosas, como também aspectos sociais importantes que estão sendo debatidos atualmente no país, com o tema Professoras e professores, alicerces e pilares da educação.
A ideia é ressaltar a relevância dos educadores na construção de uma cidadania ampla, avessa ao racismo, sexismo e outras formas de violência.
“Estamos aqui para combater o preconceito religioso, e também o racismo”, afirma a mãe de santo Ebomi Nice de Oyá, uma das principais lideranças religiosas da Bahia.
“O que nós queremos é respeito, porque o Estado é laico. E mesmo que não fosse, proclamar nossa fé, é um direito nosso”, reitera a sacerdotisa, que tem sua história marcada pela defesa da cultura afro-brasileira.
Barreiras
O povo de santo enfrenta barreiras, até mesmo judiciais, para ser celebrar seus rituais livremente no Brasil. Exemplo disso, é a legalidade do sacrifício de animais em cultos religiosos que deverá ser votada em breve pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
Para a yalorixá Hildete Laurindo de Jesus, 54, a liberdade religiosa é também uma questão de reafirmação racial. “Muitas pessoas têm vergonha de ser negro e da cultura do negro. Precisam entender que ser negro é lindo. Eu tenho o maior orgulho. Ando de cima para baixo com a minha saia e turbante”, relata.
Acompanhada pelos seus netos - Rickelme Vicente, filho de Exu, e Alessandra Laurindo, filha de Oyá - a mãe de santo participou de todas edições da Caminhada. “Desde que nasci fui criada no candomblé, é a minha religião. Me foi passado de avô para filho, e agora estou passando para os meus netos”, relata a sacerdotisa.