Jornalista e DJ Luciano Matos: falta contêiner na Vila Laura
Desde 2015, Salvador conta com Pontos de Entrega Voluntária (PEVs) para o programa de coleta seletiva e reciclagem do material. No entanto, mais de três anos depois, a estratégia alcança menos de um terço dos bairros da cidade: há, atualmente, 93 equipamentos que atendem a 50 bairros (31%). De fora, estão 113 (69%) que ainda não têm esses pontos de coleta.
No aplicativo de coleta seletiva da prefeitura, onde o município informa a localização dos PEVs mais próximos, é possível ver que bairros como Engenho Velho de Brotas, Vila Laura, Luís Anselmo, Cajazeiras, Cidade Nova, Pau Miúdo, Sete de Abril, Dom Avelar, Paripe, entre outros locais, não contam com os equipamentos onde podem ser descartados vidro, metal, papel e plástico.
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O jornalista e DJ Luciano Matos, 43 anos, faz, há mais de 10 anos, a separação entre resíduos secos e rejeitos no lixo de casa. Morador do bairro de Vila Laura, ele não tem um PEV próximo à residência. Para descartar adequadamente, tem que ir a outros locais como o Dique, Nazaré ou Pituba.
"A gente solicitou no final do ano passado para que a prefeitura colocasse um ponto aqui no bairro, mas nunca houve resposta. Além disso, os equipamentos são bem pequenos e ruins para colocar o material. Tem que abrir a sacola e despejar. Alguns estão em locais onde não dá nem para parar o carro", reclamou Matos.
Para ele, se mais pessoas fizessem a coleta seletiva, o impacto na degradação ambiental seria menor e evitaria mais detrito em lixões. "Acho que a distribuição dos pontos de coleta na cidade é ruim e acho, também, que a prefeitura trabalha pouco a conscientização da população. É preciso estimular mais as pessoas", acrescentou.
Dificuldade
A socióloga Adriana Carvalho, 47, mora no Jardim Apipema. Ela costuma fazer a separação no lixo, do que pode ser reciclado. No entanto, ela relatou que tem dificuldade para encontrar pontos adequados para o descarte do material.
"A gente fica sem nenhum lugar próximo para descartar, o que nos deixa sem alternativa. Há anos, eu tenho o hábito de fazer essa separação. Não precisava ter um ponto exatamente próximo da minha casa, mas poderia ser em locais de fácil acesso", afirmou.
Para ela, uma alternativa seria ter, na coleta regular do lixo, um dia voltado especificamente para a coleta seletiva. "Seria uma estratégia interessante".
Manutenção
A Secretaria de Cidade Sustentável (Secis), órgão municipal que é responsável pelo programa, informou, por meio de nota, que "o trabalho é gradativo" e que iniciou com 50 pontos. Na conta atual, há, além dos 93, outros 25 PEVs que foram queimados, segundo a prefeitura, "por vândalos" e mais 32 que estão em manutenção, sendo que alguns deles também por "vandalismo".
Já o Ministério do Meio Ambiente ressalta, no site do órgão federal, que, de acordo com a Política Nacional de Resíduos Sólidos, a implantação da coleta seletiva é obrigação dos municípios e as metas devem constar nos planos de gestão integrada de resíduos sólidos dos municípios.
Ainda nesta política é estabelecido que este tipo de coleta nos municípios do país deve permitir, "no mínimo", a separação entre os rejeitos e os resíduos recicláveis secos, compostos principalmente por metais, papel, papelão, diferentes tipos de plásticos e vidro.
Implantação
Em Salvador, segundo dados da Secis, são coletados cerca de 30 toneladas nos PEVs a cada mês. O material é encaminhado para sete cooperativas de reciclagem cadastradas. Toda a logística tem um custo de R$ 150 mil por mês e inclui manutenção de caminhões, motoristas e equipe de apoio.
O subsecretário da Secis, João Resch, contou que para instalar os pontos de coleta em bairros, são avaliados aspectos como a aderência de moradores ao programa e o acesso aos equipamentos. Ele afirma que leva em conta, ainda, pedidos dos próprios moradores.
Questionado se ele considera que atualmente há má distribuição dos pontos de coleta, ele disse que havia uma distribuição maior, mas que depredação e descarte inadequado motivaram a retirada e a consequente redução da oferta dos PEVs. "No Engenho Velho de Brotas tinha, mas tocaram fogo durante um protesto. O nível de vandalismo é alto. No Centro, a gente retirou por causa da depredação. Em Paripe, havia alto índice de descarte de matéria orgânica", afirmou.
Segundo o subsecretário, a Secis "pensa" em expandir a estratégia, mas atualmente está fazendo uma análise dos bairros onde já teve, mas não funcionou. "A gente não vai conseguir atender a cidade toda porque não tem nem equipamento para isso. Em alguns bairros, a gente já viu que não consegue manter por enquanto, porque não há participação, tem o vandalismo e o descarte inadequado".
Para explicar para a população o que deve ser descartado, o secretário disse que são feitas ações em escolas e eventos para estimular a conscientização. "A gente tenta fazer ao máximo para divulgar", finalizou.