O artesão Rodrigo Guedes realiza a trezena de Santo Antônio em homenagem a avó
Comum entre antigos devotos do catolicismo, a trezena de Santo Antônio de Pádua é uma tradição que reúne familiares e amigos para rezar durante 13 dias ao padroeiro dos oprimidos. Para garantir o legado familiar, as gerações posteriores reduziram o tempo das celebrações, mas não abriram mão de manter a devoção.
“Minha avó paterna faleceu no dia 13 de junho de 2015, por isso faço a trezena em homenagem a ela, que realizou durante 50 anos”, declara o artesão Rodrigo Guedes. Desta sexta-feira, 1º, até o dia 13, a sala da casa da sua avó materna estará aberta para visitação. É nesse espaço que ele monta o altar do santo, uma instalação artística que, neste ano, tem três metros de altura.
“Eu aprendi com elas (as avós) e mantenho a cultura de ornamentar o altar com papel e papelão”, conta. O artesão cria um ambiente junino com bandeirolas e luminárias. “No último dia, fazemos uma grande festa em homenagem ao santo”, ressalta. É quando as rezas são acompanhadas por atabaques e agogôs, e acontece a distribuição do pão de Santo Antônio, que os devotos costumam colocar na farinheira para trazer fartura.
Rezadeira
“Eu tinha a missão de evangelista, era comum eu ir de casa em casa ler a bíblia, então as pessoas iam me chamar para rezar o Santo Antônio em suas casas. Foi então que acabei realizando a minha primeira reza numa praça pública”, conta Maria Célia de Oliveira. Há 14 anos, ela reúne a comunidade para orar para Santo Antônio em Itinga.
Este ano, até o dia 12, as rezas serão feitas na casa de Dona Célia. No dia 13, uma antiga capela recém reformada irá receber a celebração. “Quem vier poderá observar que nós temos os livretos, mas nem usamos. Eu puxo a reza, e as outras rezadeiras respondem”.
A tradição também é mantida na casa da secretária executiva Lindinalva Monteiro. “É algo que acompanho desde criança e pretendo continuar fazendo quando minha mãe não puder mais”, revela. Atualmente, Lindinalva ajuda a arrumar a casa e garantir as rezas do tríduo, os três últimos dias da trezena. Durante os dias 11 e 12, ela e a mãe rezam no quarto em que está o santo. No dia 13, o santo é levado para o altar e elas recebem parentes e amigos.
Morando em Salvador há 16 anos, o Frei Ronaldo Marques Magalhães, da Paróquia de Santo Antônio Além do Carmo, diz que a reza de é algo bem difundido no país, mas somente na Bahia percebeu a continuidade da trezena. “Santo Antônio foi um fervoroso devoto do Senhor Jesus Cristo e conhecia a bíblia de cor, por isso tem uma certa distinção, brinco que o santo tem mais dias que o carnaval”. Segundo o Frei, Salvador possui diversas paróquias com devoção ao padroeiro, o que estimula a manutenção da tradição.
* Sob a supervisão da jornalista Jane Fernandes.