Felipe Santana* | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE
Em protesto, Carlos Costa (D), eletricista industrial aposentado, atrasa saída da estação de um ônibus sem elevador
Passageiros que dependem do transporte público para se deslocar entre os municípios da região metropolitana de Salvador enfrentam transtornos diariamente por conta da qualidade do serviço. Além do tempo de espera elevado em pontos e terminais, usuários reclamam da falta de acessibilidade nos coletivos.
A reportagem de A TARDE visitou a Estação Mussurunga para acompanhar a rotina dos passageiros que dependem dos ônibus metropolitanos para chegar a cidades próximas a Salvador. Em alguns casos, o tempo de espera ultrapassa a normalidade. Usuários reclamam do tempo de espera entre a passagem de um coletivo e outro. O estudante Thiago Melo, 25, utiliza diariamente a linha Arembepe. "Moro relativamente longe. Mas o transtorno que enfrento é por conta da espera", disse.
Mas os passageiros enfrentam também outros problemas. Com sua cadeira de rodas motorizada, o engenheiro eletricista Carlos Costa, 44, precisa de ônibus com elevador adaptado para seguir viagem até a cidade de Camaçari. Segundo ele, o tempo médio de espera dura cerca de 30 minutos. Mas, para ele, esse tempo se prolonga devido à espera de coletivo com elevador acessível.
"Fico constrangido, é complicado. Tem situações que preciso sentar no degrau do ônibus e pedir ajuda das pessoas para carregar minha cadeira", diz. No período de uma hora esperando um coletivo acessível, Carlos deixou de embarcar em dois ônibus. No primeiro, o elevador estava quebrado. Já o segundo ônibus não tinha elevador adaptado.
O cadeirante chegou a entrar em contato com a ouvidoria da Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba) para relatar o ocorrido. Depois de uma hora, ele conseguiu pegar o coletivo adequado para seguir até Camaçari.
Fiscalização
A insatisfação em relação ao transporte metropolitano é reforçada por relatos de outros passageiros. Além da falta de acessibilidade e a longa espera, eles reclamam do tratamento recebido por parte motoristas e cobradores, alguns insensíveis ao problema. A cadeirante Irenice Tavares, 39, depende diariamente da linha Monte Gordo para chegar em casa. Ela também enfrenta o problema da falta de elevador adaptado e precisa acompanhar os horários dos ônibus que dispõem de adaptação.
"Agora mesmo, eu não sei que horas vou conseguir sair daqui. Geralmente tenho que pegar dois ônibus para chegar em casa", relatou.
Segundo diretor-executivo da Agerba, Eduardo Pessoa, o órgão realiza periodicamente fiscalização nos terminais para acompanhar os ônibus que não possuem o elevador e o número mínimo de carros portando o equipamento. "Caso a empresa não esteja seguindo os parâmetros, multamos e autuamos", disse o diretor.
Os passageiros acreditam que a licitação do novo sistema de transporte metropolitano resolva os problemas atuais. Na última quinta-feira, foi publicado no Diário Oficial do Estado a convocação da consulta pública para o novo sistema, que receberá sugestões e informações para auxiliar na elaboração do edital de licitação até 14 de agosto. Já no dia 21, uma audiência pública será realizada no auditório da Agerba.
A licitação do sistema de transporte metropolitano irá conceder linhas às empresas, que devem adquirir nova frota de ônibus com itens de acessibilidade (piso baixo e elevador), além de wi-fi, GPS e ar-condicionado. "Fizemos um estudo com engenheiros de transporte para exatamente dar uma nova forma, com um sistema totalmente moderno e com serviço de qualidade", disse. De acordo com o edital apresentado pela Agerba, poderão participar da licitação empresas ou cooperativas de transporte isoladamente ou em forma de consórcio. Os editais de concessão e concorrência já podem ser consultados no site da Secretária de Infraestrutura da Bahia (Seinfra).
A fase de recebimento de propostas ainda não está aberta. O edital final deve ser fechado após a avaliação das manifestações recebida. A expectativa é que ele seja apresentado cerca de 45 dias após a audiência pública.
* Sob a supervisão da jornalista Rita Conrado