Jane Fernandes | Foto: Shirley Stolze | Ag. A TARDE
Estoque de frutos do mar se acumula com baixa procura nas feiras
Cem toneladas de petróleo cru já foram removidas de 15 praias de Salvador desde o último dia 10, quando as primeiras bolotas de óleo foram encontradas na orla da cidade. Embora a capital baiana não registre novas manchas desde sábado, ontem o material chegou a Morro de São Paulo e outras duas praias do município de Cairu. Diante desse cenário, pescadores e marisqueiras têm enfrentado uma queda nas vendas dos seus produtos, e consumidores desconfiam da segurança de ingerir frutos do mar.
O movimento estava fraco no mercado municipal de Itapuã e na área de venda da Colônia de Pescadores da Pituba, locais visitados por A TARDE na manhã desta terça-feira, 22. Afirmando que seu peixe vem de Santa Catarina e o camarão é de maricultura, o vendedor Roberto Souza, 42 anos, diz que os fregueses antigos estão comprando normalmente, mas admite que frequentadores menos assíduos do mercado estão preocupados com o risco de contaminação.
O diretor do Instituto de Biologia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Francisco Kelmo, confirma que a ingestão de frutos do mar expostos ao óleo traz riscos à saúde. Os efeitos mais imediatos podem incluir náuseas, vômito e tosse.
"Esse animais retiram oxigênio da água e, se o óleo está na água, inevitavelmente eles vão ingerir óleo. A maioria dos mariscos que comemos são filtradores, o que significa que filtram a água do mar para retirar não só oxigênio, mas também seu alimento", explica.
O biólogo esclarece que essa contaminação não necessariamente mata o animal. De toda forma, a interação com o óleo fará com que esse material se acumule no organismo dos bichos e chegue ao corpo humano quando esses alimentos forem ingeridos em quantidades regulares. Como ressalta Kelmo, ninguém come apenas uma lambreta ou um caranguejo.
Ele lembra que o petróleo cru contém metais pesados e essas substâncias podem se acumular em órgãos como fígado, baço e rim, gerando danos à saúde que podem ser sentidos daqui a vários anos, sem que a pessoa possa estabelecer qualquer relação com a ingestão do óleo. Por isso, Kelmo recomenda que não sejam consumidos pescados, mariscos e outros frutos do mar procedentes de áreas com manchas de óleo.
Cuidados
Em reunião ontem pela manhã realizada na Colônia de Pescadores de Itapuã, o presidente Arivaldo de Souza Santana defendeu que "papel de pescador não é limpar óleo na praia", argumentando que o material é tóxico.
O biólogo Francisco Kelmo reforça que essas atividades só devem ser feitas usando equipamentos de proteção, como luvas, botas e máscara. Ele reforça que não pode ser uma luva fina, simples, pois ela acaba "derretendo" com o uso.
Kelmo explica que em contato com a pele, o óleo pode gerar vermelhidão, coceira e até pequenas bolhas, especialmente em pessoas mais sensíveis. O biólogo alerta ainda que o óleo é volátil e libera vapores todo o tempo. Ele acrescenta que a aspiração desses gases pode provocar crise alérgica com espirros, rinite e, a depender da sensibilidade da pessoa, levar a deficiência respiratória grave.
Limpeza
Ao longo do dia de ontem, a Empresa de Limpeza Urbana (Limpurb) testou a limpeza do petróleo aderido às pedras usando um equipamento de jateamento com água e areia. De acordo com o presidente da empresa, Marcus Passos, o resultado foi satisfatório e continuará sendo utilizado nas áreas com maior quantidade de pedras atingidas. Hoje, a equipe deve concluir o trabalho na Pedra do Sal e começar em Ondina, seguindo depois para Amaralina.