Maria Rita foi contou no programa 'Isso é Bahia' sobre os problemas enfrentados pela Osid | Foto: Rafael Martins | Ag. A TARDE
Depois da canonização de Santa Dulce dos Pobres, as Obras Assistenciais Irmã Dulce (Osid) tiveram um aumento significativo de visitantes de várias partes do mundo e das demandas na área da saúde. No entanto, apesar das doações e do investimento do poder público, o valor recebido pela instituição não é suficiente para arcar com as despesas.
A superintendente da Osid e sobrinha da santa, Maria Rita Lopes Pontes, foi a convidada do programa 'Isso é Bahia', da rádio A TARDE FM. Em conversa com os apresentadores Jefferson Beltrão e Fernando Duarte, a responsável pela instituição comentou as dificuldades enfrentadas pelas Obras e a contribuição da Osid para sociedade baiana.
Questionada sobre as finanças da entidade, Maria Rita expôs os problemas enfrentados pela organização. Muitas vezes, o aumento dos gastos não estão previstos.
"A gente fechou o orçamento com déficit. Eu imaginava que a gente não tivesse que apelar ao Ministério da Saúde e também para sociedade no sentido de contribuir, porque a perspectiva não é boa. Me preocupa que a saúde pública tem sempre as intercorrências, agora é o coronavírus. Tinha uma máscara cirúrgica que o preço era menos de R$ 1, hoje você não compra por menos de R$ 3,40. Eu não tenho como comprar a máscara por menos de R$ 100 mil por mês. Vou gastar agora R$ 175 mil por mês, se não vou deixar de fazer cirurgia e o paciente vai deixar de ser assistido. É bem difícil administrar", pontuou.
A instituição faz um trabalho social que abarca vários tipos de procedimentos, que vão desde os atendimentos ambulatoriais até cirúrgicos. A gestora informou que, por ano, são realizados 3,5 milhões de procedimentos ambulatoriais. Por dia, passam nas Obras cerca de 2 mil pessoas. Além disso, a entidade tem, segundo Maria Rita, 21 núcleos de atendimento na área de saúde, assistência social e educação, fora ensino e pesquisa.
Ela acrescenta que, por ano, são realizadas 12 mil cirurgias e 18 mil internamentos. Ao todo, são 4.300 profissionais, contando os que trabalham no estado, como organização nos municípios de Irecê, Santa Rita de Cássia e Barreiras. Nestas cidades há hospitais do estado administrados pela Osid.
Doações
A gestora fez um levantamento histórico da Osid para mostrar as mudanças e o crescimento que ocorreu ao longo dos anos: mais pessoas foram atendidas, mais doações e investimentos feitos, aumentando também os custos.
"Vou dividir em etapas: primeiramente, nos tempos heroicos de Santa Dulce - falo até no final da década de 1980 -, era só doação, ela não tinha o SUS (Sistema Único de Saúde). Depois, vendo as dificuldades da obra, com mais de mil leitos hospitalares, ela se deu conta, a nossa Santa Dulce, de que precisava ter o apoio do governo também e, através do SUS, passou a receber recursos também do Ministério da Saúde, além de convênios", explica.
Sobre o momento atual, Maria Rita ressalta que grande parte do investimento recebido é do SUS e, nos últimos anos, houve um aumento nos atendimentos. "Hoje, basicamente, a obra é 100% SUS. Ter 954 leitos de SUS é muito difícil, principalmente com algumas demandas que tenham aumentado, como de pacientes oncológicos, onde a complexidade e a necessidade são bem mais dispendiosas. Então aumentou o custeio de tudo. Há um subfinanciamento do SUS, que é conhecido por todos os hospitais filantrópicos, e esta é a nossa grande dificuldade", explica.
Como o dinheiro do SUS não é suficiente, o dinheiro das doações são fundamentais para ajudar a solucionar os problemas enfrentados pelas Obras. O dinheiro das doações cobre parte do déficit.
"As doações continuam, elas chegam muito para cobrir parte do déficit do SUS. A infraestrutura, área que presta todo esse apoio na assistência, acaba ficando sucateada. Esse é o grande dilema hoje que, com a projeção e a visibilidade que as Obras passam a ter com a canonização, a gente possa resolver uma parte. Aumentaram as doações? Sim, aumentaram. O que acontece é que a gente recebe mais pessoas agora: turistas e devotos que querem ser bem acolhidos no Santuário", reflete Maria Rita sobre a situação.
Outras áreas, além do setor médico, também foram reestruturadas: houve requalificação de todo espaço interno de acolhimento, na lojinha, no café e no santuário. A superintendente pontua que isto aconteceu "por conta dessa grande demanda de pessoas que estão chegando, inclusive turistas de fora e que a gente quer deixar uma boa imagem".
Mudança no cotidiano
Questionada sobre o que mudou após a canonização da tia, Maria Rita foi enfática ao afirmar que esperava poder relaxar mais, no entanto isto não ocorreu e as atividades na instituição aumentaram.
"Mudou que eu achava que eu ia conseguir relaxar um pouquinho mas, ao contrário, as atividades se intensificaram, as preocupações aumentaram, porque as visitas ao complexo do Santuário aumentaram 120%. Nós recebíamos umas 250 pessoas por dia, hoje estamos recebendo 600 pessoas. Uma coisa incrível! E todos têm uma história para contar, até soteropolitanos que nunca estiveram lá, estão indo para conhecer. Manifestações de todo Brasil, inclusive de outras partes do mundo e também pessoas que vêm em romaria", ressalta.
Sobre a data de homenagem à Santa Dulce dos Pobres, os devotos precisam ficar cientes que apesar da data da morte ter sido em 13 de março, o dia escolhido pela Igreja Católica é 13 de agosto.