Beleza natural e força econômica em S. Francisco do Conde | Fotos: Rafael Martins | Ag. A TARDE
No aniversário de 519 anos, comemorado neste domingo, 1º de novembro, a Baía de Todos-os-Santos (BTS) segue com grande força cultural, socioeconômica e ambiental para o estado. E todo este potencial, que permanece séculos após a chegada dos navegadores portugueses, fez a BTS ser declarada Capital da Amazônia Azul por órgãos como a Associação Comercial da Bahia (ACB), em 2014.
As belezas naturais e a calmaria das águas ainda geram o debate sobre a maior exploração turística da segunda maior baía do mundo, que tem mais de 1,2 mil km² e banha todo o Recôncavo e ilhas naturais, a exemplo de Itaparica, dos Frades, de Maré. Hoje, o desafio de expansão do turismo na BTS passa pelo Programa de Desenvolvimento do Turismo (Prodetur), cujos investimentos em infraestrutura pública somam R$ 400 milhões.
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“Ilha dos Frades tem igrejas do séc. 17 que foram reformadas”
Isabela Suarez, Fund. Baia Viva
O Prodetur é um programa voltado para a obtenção de crédito de financiamento externo, criado pelo governo federal no âmbito do Ministério do Turismo. O secretário de Turismo da Bahia, Fausto Franco, afirma que os valores investidos através do Prodetur estão focados em intervenções que buscam a revitalização da infraestrutura da baía e o consequente avanço do turismo no estado.
“O Prodetur tem viabilizado a realização de intervenções náuticas que vão criar um fluxo de turistas e pessoas, girando toda a engrenagem econômica da Baía de Todos-os-Santos, este lugar fantástico. Dos 400 milhões investidos por meio de contrato assinado em 2014, 60% saíram do Banco Interamericano e 40% do governo. Iniciadas no final de 2019, as obras serão concluídas até o fim do verão de 2021”, explica Franco.
Segundo o secretário, 13 obras de infraestrutura náutica fazem parte do Prodetur Bahia, a exemplo da Marina da Penha, na Ribeira, que vai receber um píer flutuante, e da requalificação do atracadouro de Jaguaripe, no Recôncavo. Com as obras, o fluxo de visitantes estimado na BTS em 2021 é de 634.696, com receita turística de R$ 97 milhões. Até 2030, o número deve superar os 3,4 milhões, com receita superior aos R$ 530 milhões.
Ganha-pão
O marinheiro Marivan Neves, 46 anos, tem na BTS o ganha-pão. Nativo da Ilha de Maré, há nove anos ele faz o transporte de pessoas entre a ilha e a capital do estado. O barco de Marivan, o Amar Só a Deus, fica atracado nas águas calmas de São Tomé de Paripe.
“É realmente um privilégio ter a Baía de Todos-os-santos como o local de trabalho, este paraíso. É daqui que tiro o sustento da minha família. Este é o lugar onde nasci, cresci e que aprendi a amar. E o fluxo do turismo aqui está ficando mais organizado, trazendo a esperança de dias ainda melhores", conta esperançoso o marinheiro.
Aurelino: ligação com o mar por meio da pesca
Pesca
A poucos metros do local de trabalho de Marivan, Aurelino Maisck, de 53 anos, se conecta com a baía pela pesca. É a tradição da família dele, que pratica a atividade como forma de lazer, reúne parentes de diferentes idades e graus. “Venho aqui desde pequeno. E os parentes, a maioria é de São Tomé também. É um momento de alegria, união. E vale a brincadeira, pois nem sempre encontramos peixes. Este lugar é maravilhoso”, diverte-se Aurélio.
E as belezas naturais destacadas por ele, além da rica fauna que faz a atividade pesqueira ser tradição na BTS, são patrimônios que precisam ser preservados, alerta José Rodrigues, doutor em geologia marinha costeira pela Universidade Federal da Bahia (Ufba). “A baía concentra recifes de corais que são essenciais para a manutenção da vida e ecossistemas. São berçários onde os peixes pequenos podem se proteger e alcançar a fase adulta. A preservação ambiental não termina após a faixa de areia”, alerta Rodrigues.
Integrante da direção da Associação Comercial da Bahia (ACB), Eduardo Athayde, reforça que dos 693 quilômetros quadrados da área total do município de Salvador, 343 estão em território seco e 350 no território molhado da BTS. E a Capital da Amazônia Azul, selo que destaca a riqueza ambiental presente nas águas da BTS, pode em expandir o potencial econômico do estado e garantir a conservação das áreas.
“Salvador tem um imenso território molhado e ainda não deu a devida atenção a este valoroso patrimônio. A vista para o mar, por exemplo, agrega valor a qualquer imóvel. E existem vários prédios com lindas vistas para a Capital da Amazônia Azul”, destaca Athayde.
Valor Histórico
Com trabalhos que envolvam a educação ambiental, a presidente da Fundação Baía Viva, Isabela Suarez, defende o uso sustentável das belezas naturais e históricas da Ilha dos Frades.
“A Ilha dos Frades conta com dois expoentes culturais que são datados do século 17, e que passaram por reformas de infraestrutura e atualmente recebem considerável número de turistas”, conta ela.
“São as belas igrejas de Nossa Senhora do Loreto e Nossa Senhora de Guadalupe, um exemplo de preservação que deveria ser estendido para outros edifícios históricos presentes em várias ilhas da BTS”, diz Isabela Suarez.
Além das edificações históricas, os saveiros, barcos com mastro e vela utilizados para transporte, pesca e turismo, ligam a BTS com a cultura baiana, diz Carlos Amorim, especialista em patrimônio histórico.
“Os saveiros permitiram a formação das feiras, como São Joaquim. O próprio Mercado Modelo era uma antiga alfândega. O samba de roda do Recôncavo cresceu na dinâmica de pessoas que chegavam dos barcos para as festas culturais”, conclui.