É preciso vigiar e punir homicidas e coibir aqueles cujo discurso irado ou omisso os apoiam, a fim de terem a devida resposta | Foto: Nelson Almeida | AFP
Agir contra os impulsos e baixos instintos, inerentes à condição humana, pode levar a um resultado moral eficiente, como meio de conter o ser primitivo habitante de cada um de nós e pronto a cometer uma barbárie, se não souber conter-se com o freio da razão. Por não neutralizar a inclinação para a violência, seguranças de um supermercado de Porto Alegre espancaram até a morte um homem negro, e em plena véspera da data na qual celebra-se a Consciência Negra.
A brutalidade do homicídio doloso – com intenção – revela, uma vez mais, o quanto os afetos mal-compreendidos são capazes de vencer a razão, pois os seguranças, ambos brancos, não conseguiram espelhar-se na vítima. O caso abastece de farta munição o ódio racial, cujo vice-presidente da República, figura conhecida por “general Mourão”, disse desconhecer no país, em mais uma declaração inusitada, embora não surpreenda os brasileiros.
O supermercado é reincidente em práticas nas quais falta compaixão e sobram forças sombrias, escondidas, mas subitamente à mostra, como ocorreu com a morte da cadela Manchinha, também obra dos homens de segurança. Em agosto, a mesma empresa, estranhamente, registrou para o país a cena de guarda-sóis cobrindo suposto corpo de um homem, cujo óbito ocorreu enquanto trabalhava em uma loja da rede no Recife.
Ao verificar o impacto negativo da nova ocorrência, a empresa anunciou o rompimento do contrato com a equipe dita de “segurança” e declarou que iniciou rigorosa apuração interna do caso.
Para os racistas, adeptos de ideias da supremacia branca, o assassinato de mais um negro é motivo de celebrar, como tem ocorrido nos Estados Unidos, porém a cidadania brasileira não está morta.
Vidas negras importam em todo lugar: é preciso vigiar e punir homicidas e coibir aqueles cujo discurso irado ou omisso os apoiam, a fim de terem a devida resposta, na mesma proporção, culpa e castigo equivalendo-se para triunfar a justiça.