Ambulantes das imediações da Estação Bresser do metrô, na zona leste, têm de pagar propina a outro camelô. A cobrança seria feita em nome de fiscais da Subprefeitura da Mooca. A extorsão ocorre há pelo menos um ano, toda sexta-feira. Para a cobrança não ficar evidente, criou-se um código entre os vendedores e o homem: ao se aproximar das barracas, ele anuncia que é hora de pagar o "mensalinho", referência ao escândalo no Congresso.
Durante um mês, a Agência Estado observou o esquema na esquina das Ruas do Hipódromo e Ipanema, na frente de um dos acessos do metrô. Sempre no fim da tarde, entre 16 e 17 horas, um senhor baixo, gordinho, vestindo boné e sobretudo azul-marinho, passa recolhendo R$ 10,00 de cada um dos dez ambulantes que atuam no local.
Conhecido como Durval, ele próprio trabalha no cruzamento. É o único que possui duas bancas: uma de bilhetes de trem e de metrô e outra de doces e salgadinhos, administradas pela mulher e pelos filhos.
O ponto é movimentado, principalmente no início da noite, quando alunos das Universidades Anhembi-Morumbi e São Judas estão a caminho da aula. Segundo camelôs, desde que a propina foi instituída, eles nunca mais foram incomodados pelos fiscais da Prefeitura.
Alguns se arriscam a vender bebidas alcoólicas, o que é proibido pela lei municipal. "Os fiscais sumiram daqui. Vendo cerveja sem nenhuma preocupação", disse um dos vendedores.
Até os camelôs que têm o Termo de Permissão de Uso (TPU) - licença da Prefeitura - aceitam a cobrança. "Eles falam que é o cafezinho. Tem de pagar. O que eu vou fazer?", conformou-se um ambulante.
Quando um camelô não tem os R$ 10,00, o cobrador da propina faz ameaças veladas. Na primeira vez em que esteve no local, a Agência Estado seguiu o homem e flagrou uma curta conversa entre ele e um vendedor de doces.
- Esta semana não dá!, disse o ambulante.
- Tá vendo? A gente tenta ajudar o cabra e ele não colabora, retrucou Durval.
Após o diálogo, o camelô sacou R$ 10,00 da carteira e entregou o dinheiro.
Os ambulantes são unânimes em dizer que a quantia arrecadada semanalmente vai parar nas mãos de um fiscal da subprefeitura, que seria um homem negro, alto e forte, segundo testemunhas. Ele receberia a propina em um bar da região.
O controle é rigoroso. Nos dois feriados prolongados de abril, a cobrança foi antecipada para quinta-feira. "Não falha nunca", garantiu o dono de uma barraca de alimentos.
O subprefeito da Mooca, Eduardo Odloak, admitiu dificuldades para fiscalizar a área do metrô, pois tem "apenas" 50 agentes para vistoriar a região. "A prioridade tem sido o Largo da Concórdia e a Praça Agente Cícero, no Brás, onde o comércio irregular era mais problemático." Ele prometeu abrir processo administrativo para apurar as denúncias e intensificar as operações na região.