Quem passa pelo Largo da Batata, em Pinheiros, e vê as obras em curso, com guindastes, tapumes e muito barulho, imagina que se trata da tão alardeada reurbanização da região, um entroncamento fundamental no passado e no futuro de São Paulo. Não; a quebradeira se deve à construção da Linha 4 do metrô. O projeto de reconversão urbana do largo, apresentado há três anos, ainda não saiu do papel. Mas por que é tão difícil reurbanizar em São Paulo?
Em cidades como Buenos Aires, para não mencionar Berlim ou Montreal, é possível ver o efeito da recuperação de regiões deterioradas, cuja vocação econômica, social e urbanística é reformulada. Turistas brasileiros estão familiarizados com Puerto Madero, em Buenos Aires, onde a área do antigo porto foi redesenhada para abrigar edifícios comerciais, com destaque para empresas de tecnologia, e restaurantes de qualidade, como o brasileiro Rubaiyat, com vista para um braço do mar tomado por pequenas embarcações, pontes e um calçadão como solário.
Lá, porém, entidades autônomas, formadas por empresas e associações e apoiadas pelo poder público, conduzem o barco. Em São Paulo, as chamadas Operações Urbanas - como a Faria Lima, à qual pertence o projeto do Largo da Batata - são muitas, mas dependem da determinação pública. Com exceção parcial da Faria Lima e da Operação Centro, na qual se destaca o projeto da Nova Luz, as demais mal foram iniciadas. Ora por falta de dinheiro, ora por desvio de prioridades, elas estacionaram num círculo vicioso: a Prefeitura espera o interesse do setor imobiliário; este espera as ações municipais.
Precisamos de uma espécie de agência de desenvolvimento urbano, defende o vice-presidente da Associação Brasileira dos Escritórios de Arquitetura (Asbea), Paulo Lisboa. Há uma miopia do poder público, que se preocupa apenas com o aspecto viário. Urbanizar é integrar os vários usos de uma região, combinando economia, habitação e serviços. Para ele, a agência serviria para impedir que os projetos se percam nas trocas de gestão política, permitindo maior participação da sociedade.
O arquiteto Roberto Aflalo, que já criou projetos para a Nova Luz e para a Operação Água Branca, concorda: Precisamos ir além da questão do trânsito ou do zoneamento, para requalificar os espaços urbanos em sua complexidade. Para ele, o Plano Diretor, aprovado em 2002, não serviu para induzir a iniciativa privada nem para reduzir a descontinuidade administrativa. Reurbanizações são demoradas. Gasta-se mal o dinheiro e não se direcionam os investimentos.
A empresa pública que executa as operações, a Empresa Municipal de Urbanização (Emurb), agora ligada à Secretaria de Infra-estrutura Urbana, diz que os instrumentos legais e operacionais disponíveis são suficientes para torná-las viáveis. Mas há a percepção de que a criação de uma entidade ou agência seria interessante.