Consciente do impacto nem sempre positivo que provocou na Vila Clementino, na zona sul de São Paulo, a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) preparou conjunto de reformas, a ser executado pela própria instituição, pela Prefeitura e por empresas privadas, para melhorar as ruas onde está instalada. Denominado ?Bairro Universitário?, o projeto será lançado hoje pelo prefeito Gilberto Kassab (PFL), no campus da instituição.
Se, por um lado, a preocupação sobre o impacto ambiental leva a Unifesp a implantar projeto para melhorar a situação num local específico, de outro, a criação de 58 novas instituições universitárias em São Paulo entre 1991 e 2004 mudou o perfil de bairros e de prédios antigos, alterou o trânsito, criou uma espécie de pico noturno no Metrô e estimulou até novos nichos de mercado para camelôs. Segundo o Ministério da Educação, o número de matrículas em cursos de graduação na cidade cresceu mais de 100% nesses 13 anos, pulando de 189.171, em 1991, para 405.574, em 2004. O de cursos universitários presenciais em São Paulo foi de 388 para 1.494, no período.
De janeiro a junho deste ano, nove projetos de expansão ou de construção de prédios para faculdades deram entrada no Departamento de Aprovação de Imóveis (Aprov), da Prefeitura. Entre as aquisições está o antigo edifício do Caesar Park Hotel na Avenida Augusta, região central da cidade, que passa por reforma para abrigar a Faculdade das Américas.
No rol de reutilizações, há prédios dos mais inusitados, como a praça de alimentação do antigo shopping Silvio Romero, no Tatuapé, zona leste, que passou a abrigar unidade da Universidade São Marcos.
?Demos vida ao bairro, mas também mudamos a sua dinâmica. A circulação de estudantes e pacientes piora o trânsito, atrai camelôs?, diz o pró-reitor de administração da Unifesp, Sérgio Graibe. Cerca de 200 imóveis vizinhos à Unifesp são usados atualmente como ambulatórios de especialidades.
A idéia de criar um bairro (o entorno da universidade) que tivesse obras que garantam a acessibilidade de portadores de deficiência, inclusive semáforos e calçadas especiais para cegos nas proximidades da Unifesp, na Vila Clementino, surgiu após reuniões com Fábio Lepique, subprefeito da Vila Mariana. A região é próxima de centros como a Apae, AACD e Fundação Dorina Nowill, para deficientes visuais.
Prêmio - A ocupação de região decadente do Brás, na zona leste, repleta de imóveis vazios após a saída de indústrias, rendeu o Prêmio Master Imobiliário de 1998 à Anhembi Morumbi. A universidade adquiriu o prédio da Alpargatas, que completa um século de história em 2007, e o transformou em nova unidade.
?A universidade tem o poder de transformar o entorno, por isso procuramos espaços onde ela poderia contribuir?, afirma Angela Freitas, arquiteta e diretora-executiva da Anhembi Morumbi, cujo projeto cuidou de preservar a história do prédio, seja na biblioteca instalada no antigo refeitório ou no galpão que cedeu espaço às salas especiais do curso de gastronomia.
O arquiteto e urbanista Jorge Wilheim, ex-secretário do Planejamento e autor do Plano Diretor Estratégico da cidade, também considera positiva a expansão das universidades. ?É evidente que se trata de um bom negócio. Mas o impacto que provoca na cidade é grande, para o bem, porque gera dinamismo, ou para o mal.?
Vida Noturna - A São Paulo universitária ganha vida à noite. Tanto que os estudantes se tornaram grupo importante na vida do Metrô e da Companhia de Engenharia de Tráfego. A CET aponta lentidão na Avenida Nova Faria Lima, na zona sul, e no início da Radial Leste. Motivo: concentração de estudantes motorizados.
O Metrô registra aumento da circulação de passageiros entre 22 e 23 horas.