Representantes de 57 Instituições Federais de Ensino Superior do Brasil (Ifes) e do Ministério da Educação (MEC) chegaram hoje às primeiras definições relacionadas ao projeto Universidade Nova, discutido em um seminário em Salvador. O projeto propõe alterações no ingresso dos estudantes nas universidades federais e na estrutura curricular dos cursos superiores. Uma das propostas é o fim do vestibular.
De acordo com o reitor da Universidade Federal da Bahia (UFBA), Naomar Almeida Filho, um dos idealizadores do Universidade Nova, já é consenso, por exemplo, que os Bacharelados Interdisciplinares (BIs) - cursos de três anos em áreas como saúde, artes e humanidades - que os estudantes teriam de freqüentar antes de começar um curso superior de formação específica - como Direito, Medicina e Engenharia - passariam a ser aplicados a todos os estudantes de ensino superior.
"Apesar dessa definição, ainda não chegamos à conclusão de quantas serão essas grandes áreas do conhecimento. Partimos de quatro (ciências, humanidades, artes e tecnologia), mas há quem defenda até sete (as anteriores, acrescidas de saúde, ciências da natureza e ciências humanas e sociais)", afirmou o reitor.
Uma primeira experiência com os BIs já vem sendo feita no Brasil, desde setembro, na Universidade Federal do ABC (UFABC). "São 1.500 alunos que estão freqüentando o curso de tecnologia", conta o reitor Hermano Ferreira Tavares. "Depois dos três anos, eles terão diploma de curso superior e poderão optar por cursos profissionalizantes de dois anos em oito áreas de engenharia, também disponíveis na instituição."
Fim do vestibularDe acordo com Almeida Filho, também ficou estabelecido no seminário que o vestibular, como é aplicado hoje, seria descartado na Universidade Nova. "Como prevemos dobrar a capacidade de estudantes das universidades com a reforma, existe a possibilidade de adotarmos mesmo o Enem como processo seletivo, desde que fossem feitas algumas alterações no exame", afirma.
O reitor da UFBA acrescenta que representantes das instituições que adotarem os conceitos da Universidade Nova deveriam fazer parte do conselho para que o Enem fosse adotado como padrão de seleção unificado.
Segundo o coordenador-executivo da Comissão Permanente para os Vestibulares da Unicamp (Comvest), Leandro Tessler, o exame deve ser mais bem sistematizado. "Para começar, ele precisa ser gerido por um conselho que hoje não está atuando como foi previsto quando da sua implantação", acredita Tessler.
Um dos pontos controversos que não tiveram uma conclusão durante as reuniões de ontem foi o relativo à passagem dos estudantes dos BIs para os cursos profissionalizantes. Como não há previsão de ampliação de vagas nesses cursos, um novo modelo de seleção de alunos precisaria ser aprovado.
"Vamos promover um segundo seminário para discutir os pontos em aberto, como este, entre março e abril, na Universidade de Brasília", ressalta Almeida Filho. Segundo o reitor, porém, as primeiras definições e os pontos em discussão serão enviados nesta semana a todas as 57 Ifes, para que elas promovam discussões internas nas universidades acerca da Universidade Nova.
As idéias foram discutidas no 1.º Seminário Nacional da Universidade Nova - Reestruturação da Arquitetura Acadêmica da Educação Superior no Brasil, realizado entre a quinta-feira e hoje em Salvador. No total, participaram das discussões 193 representantes das Ifes e do MEC.