Entre 2001 e 2005, o porcentual de brasileiros dependentes de álcool passou de 11,2% para 12,3%. Esse agravamento de um dos maiores problemas de saúde pública no País foi detectado pelo segundo Levantamento Domiciliar sobre Uso de Drogas Psicotrópicas no Brasil, promovido pela Secretaria Nacional Antidrogas (Senad). O estudo, sobre consumo e dependência de drogas lícitas e ilícitas, será divulgado na íntegra na sexta-feira. Segundo a diretora de políticas de prevenção e tratamento do Senad, Paulina Duarte, a situação mais "assustadora exposta pelo levantamento diz respeito à precocidade com que os brasileiros começam a consumir e a se tornar dependentes de álcool.
Dos jovens entre 12 e 17 anos de idade, informa a diretora do Senad, 54% dizem já ter consumido álcool e 7% têm sintomas de dependência. Na faixa dos 18 aos 24 anos, o porcentual dos que já tomaram bebidas alcoólicas sobe para 78% e o de dependentes, para 19%. Segundo Paulina, o problema será enfrentado pelo governo federal com um pacote de medidas relativas à prevenção e ao tratamento do alcoolismo - incluindo uma regulamentação, mais restritiva, da propaganda de bebidas -, a ser anunciado até o fim do ano. O estudo da Senad, realizado nas 108 cidades do País com mais de 200 mil habitantes, baseia-se em 7.939 entrevistas com pessoas de 12 a 65 anos. De acordo com o farmacologista Elisaldo Carlini, que coordenou o levantamento, comparadas com álcool e com tabaco, cujo porcentual de dependentes passou de 9% para 10%, as outras drogas são um problema relativamente pequeno.
No contexto internacional, os índices brasileiros, segundo Carlini, só estão acima da média em uma categoria: a dos estimulantes, à base de anfetaminas, usados para emagrecimento. Mesmo sob a proteção formal da tarja preta na embalagem, o abuso e o uso recreativo desses remédios acontecem, afirma o médico, em escala vergonhosa no Brasil. Segundo a ONU, somos campeões mundiais no consumo desses medicamentos, conta o especialista. No pesquisa da Senad, o porcentual dos que dizem já ter feito uso desses estimulantes subiu de 1,5% em 2001 para 3,2% em 2005.
DROGAS ILÍCITAS - Apesar de afetarem uma quantidade bem menor de brasileiros, o consumo e a dependência de substâncias ilícitas e, sobretudo, o acesso a essas drogas, estão em alta. Em quatro anos, o porcentual dos que já consumiram drogas ilícitas pelo menos uma vez na vida passou de 19,4%, em 2001, para 22,8%, em 2005. O porcentual de dependentes de maconha, a mais consumida entre as substâncias proibidas, cresceu 40%, subindo de 1% para 1,4%. Na sexta, o governo federal promete anunciar também a adoção do primeiro modelo adaptado à realidade brasileira para avaliação do grau de dependência química de usuários de drogas.
A utilização desse padrão, baseado no Addiction Severity Index, usado nos Estados Unidos, garante a diretora da Senad, possibilitará diagnósticos mais precisos do problema, além de nortear o tratamento de dependentes e as políticas de prevenção ao consumo em todo o País.