De Niro e Tommy Lee Jones em A Família, que se inspira nos grandes filmes sobre máfia italiana
A melhor coisa do misto de comédia e ação policial A Família, do diretor francês Luc Besson, é a maneira despojada como a trama se desenrola. O cineasta não busca outra coisa que não o passatempo, mas arranca boas atuações do elenco, numa obra que sabe rir de si mesma, inclusive citando o universo dos grandes filmes inspirados no tema da máfia italiana.
Há muito que o ator Robert De Niro não se empenhava tanto na composição de um personagem. Ele repete o tom de filmes como A Máfia no Divã e Entrando Numa Fria, mas se empenha na composição deste ex-gângster da fita, um personagem que se emociona com a autocitação (dentro do filme se exibe um trecho de Os Bons Companheiros).
Todos lembram que Os Bons Companheiros (1990), de Martin Scorsese, é um destes clássicos inegáveis sobre o tema. Trazia o próprio De Niro em ótima forma, como um criminoso ligado à máfia. Agora, Giovanni Manzoni, personagem do ator em A Família, revê Robert De Niro numa sessão da película de Scorsese, emociona-se e passa a falar mais do que devia.
Somente esta situação de autoironia já valeria o ingresso, mas a obra traz mais sobre este inconveniente ex-mafioso. Giovanni ignora os limites do sigilo e passa a escrever um livro de memórias sobre os tempos em que estava no mundo do crime, algo totalmente impróprio para quem está sob proteção judicial por "delação premiada".
Na fita, não apenas Giovanni/De Niro funciona, mas todo o núcleo familiar. Michelle Pfeiffer encarna Maggie Blake, uma típica esposa-sereia daquelas que os mafiosos costumam ostentar.
Vale lembrar, que a própria atriz já havia encarado um papel assim em De Caso com a Máfia (1988), sendo que fazia uma mulher inocente, totalmente assustada ao descobrir o envolvimento do marido com o mundo do crime.
Neste A Família, Maggie é tudo, menos inocente. É como se aquela garota do filme anterior, tivesse virado uma mulher bem familiarizada com a ação criminosa. Não por acaso, ela revida quem lhe importuna com métodos violentos e impiedosos, bem ao modo dos mafiosos.
Assista o trailer de A Família:
Filhos
A jovem atriz Dianna Agron, conhecida pelo seriado Glee, interpreta Belle Blake, a filha de Maggie e Giovanni. Ao mesmo tempo em que vive as questões da sua idade, também já se mostra capaz de se defender usando uma raquete de tênis como arma ou seja lá o que esteja ao seu alcance.
Já o irmão dela, Warren Blake (o ator John D'Leo), demonstra outro tipo de habilidade, a capacidade de ir constituindo uma rede de troca de favores, estabelecendo tentáculos, mais uma vez: bem ao modo como age a máfia.
Todos os personagens estão pouco além da condição de caricaturas, o que não é ruim no caso deste filme, que extrai o humor justamente pela paródia, a partir do que o espectador já conhece deste universo temático.
Coadjuvante
Melhor ainda, que além de ter bons atores nos papéis certos, A Família pode ainda contar com um coadjuvante de peso, como é o caso de Tommy Lee Jones. O astro da série Mib - Homens de Preto, entre outros, vive aqui Robert Stansfield, um agente do governo, responsável pela segurança da família de Giovanni Manzoni.
Por fim, a obra acerta ao ambientar a trama na França, pátria do diretor Luc Besson. Este arranjo permite piadas sobre as diferenças entre os norte-americanos e os franceses, claro que tudo arranjado a partir de estereótipos.
Besson, que tem uma carreira bastante irregular, assinando boas obras de ação como O Profissional (1994) e projetos poucos inspirados como Joana D'Arc (1999) e Angel-A (2005), acerta ao focar numa direção enxuta e encenações competentes. Lembrando os tempos do início de carreira, quando chamou a atenção por Subway (1985).
A Família consegue divertir pelas situações peculiares, que fazem de seus tipos figuras surpreendentes para a média das pessoas. Ainda assim, flertando tanto com o humor, consegue criar uma trama crescente de suspense e ação, até o desfecho da história, que, se não chega a ser imprevisível, pelo menos, não deixa qualquer expectativa em descoberto.