Os Dez Mandamentos é um resumo da novela homônima, com um novo final
Estreia nesta quinta-feira, 28, em Salvador e em mais cerca de 300 cidades do País, o longa-metragem Os Dez Mandamentos, produzido pela Record em parceria com a Paris Filmes e a Downtown.
O filme entra em cartaz com credenciais prévias de um "arrasa-quarteirão": mais de 2,5 milhões de ingressos vendidos antecipadamente e já na lista dos 20 filmes com maior bilheteria do cinema nacional dos últimos dez anos. Vendeu quase seis vezes mais ingressos que a pré-venda de Jogos Vorazes ou mesmo Star Wars.
Para se ter uma ideia do fenômeno, Os Dez Mandamentos sozinho será responsável por elevar a bilheteria total do cinema brasileiro em 2016, que será provavelmente - graças a ele - o ano em que os cinemas tiveram mais público em todos os tempos.
É óbvio, como o noticiário clareou nas últimas semanas, que boa parte desse fenômeno se deve à mobilização de pastores e fiéis da Igreja Universal. Mas seria tolo acreditar que apenas essa mobilização seja responsável por tal lista de recordes batidos.
Não. Há um legítimo e claro interesse também de fiéis de outras religiões: todos querem ver o filme. Principalmente aqueles que não acompanharam a novela, encerrada no ano passado também como a maior audiência da história da TV Record.
A novela foi responsável por ter obrigado até a Globo a alterar sua grade de programação em horário nobre. Convenhamos, não é pouca coisa.
Em sua pré-estreia , em São Paulo, praticamente todo o elenco esteve presente e todos, sem exceção, riam de orelha a orelha, demonstrando o orgulho evidente dos vencedores.
Afinal, boa parte desses artistas, como Sergio Marone e Larissa Maciel, entre outros, foi expelida da poderosa Globo nos últimos anos. Para esses, Os Dez Mandamentos - tanto novela como filme - é um verdadeiro gol de placa, e a Record se tornou a terra prometida.
Dito tudo isso, o filme é tudo isso mesmo? Bem, lamento informar aos leitores de A TARDE que a resposta é não.
O problema maior é que Os Dez Mandamentos não foi pensado como filme e tampouco para o cinema. Foi apenas o sucesso circunstancial da TV que levou à direção da Record a decidir produzir também o filme.
O resultado disso é que o longa tem problemas graves e evidentes de edição. Para condensar mais de 150 capítulos de trama em pouco menos de duas horas de duração, o filme precisa contar com um narrador em tempo integral, como se precisasse explicar passo a passo aquilo que o espectador vê na tela.
Por causa disso o filme caminha aos solavancos, emendando cena após cena; a sensação final é que não se está diante de um filme, mas diante de um capítulo longo de novela que tenta se explicar.
Sim, a fotografia é simplesmente espetacular, e o mesmo vale para o figurino - embora num determinado momento um soldado egípcio bata com sua espada no escudo e o som seja claramente de papelão.
Não há também nada a questionar sobre as atuações, mas aqui vale um adendo: o fato de a linguagem e os diálogos serem "declamados", como numa novela de época, tornou o trabalho dos atores mais fácil.
Vale outro adendo: é preciso reconhecer que, assim como ocorreu na novela, Sergio Marone está um degrau acima do restante do elenco. Como o faraó Ramsés, ele atrai para si ora a simpatia, ora a ira do público num nível corpóreo. Marone é de longe a melhor coisa do filme, ao lado dos impressionantes efeitos especiais - inéditos no cinema nacional.
De certa forma, Os Dez Mandamentos - O Filme cumpre o que promete e certamente vai agradar o público menos exigente, e de todas as idades.
Mas nem o Deus dos judeus, que tantos milagres faz em duas horas, pode salvar os problemas de montagem em um filme que não foi pensado para ser filme, e só virou longa por causa das circustâncias felizes e especiais da TV.