Big Jato é baseado em livro autobiográfico de Xico Sá
O cinema de embate e crueldade de Cláudio Assis encontra um lenitivo em Big Jato. Não que o cineasta vá em busca de um correspondente narrativo à altura para substituir de vez a aspereza de títulos como "Amarelo Manga" (2002), "Baixio das Bestas" (2006) e "Febre do Rato" (2011). Mas é certo que no novo filme, adaptado do livro autobiográfico de Xico Sá, ele se confronta com o próprio universo estilístico.
Em meio a um registro mais humano, um tanto longe do submundo que o notabilizou, algo que já havia sinalizado em Febre do Rato, Assis é um cineasta que permanece inquieto e parece querer tomar outro rumo, a exemplo do garoto que acompanha com elementos de romance de formação.
O rapaz é Chico (Rafael Nicácio), que trabalha com o pai em a bordo de um caminhão-pipa, o Big Jato, limpando as fossas das casas da cidade de Peixe de Pedra. Francisco, o pai, é um homem rude que se contrapõe ao irmão gêmeo, Nelson, um radialista de espírito libertário.
Ambos interpretados por Matheus Nachtergaele, são opostos que se complementam na figura do Príncipe Ribamar da Beira-fresca (Jards Macalé), espécie de louco de rua que vagueia pela cidade compondo aquele mundo principalmente lírico, lúdico e sensual do menino que amadurece e quer ser poeta.
Se demonstra fragilidade no trato com os atores mais jovens, que interpretam Chico e seus irmãos, Big Jato ganha com a presença de Matheus e Marcélia Cartaxo, que faz a mãe, e nos contrastes que propõe ('quem não reage, rasteja') em busca do sentido da vida, para além do desgastado sertão/mar tão sonhado pelo garoto