O filme descortina o cotidiano do Juliano Moreira e a rotina dos atendidos pela Criamundo
Fernanda Fontes Vareille conta que a ideia de fazer A Loucura Entre Nós surgiu depois de uma conversa que teve com o médico psiquiatra Marcelo Veras, ex-diretor do Hospital Juliano Moreira. Autor do livro que inspirou o filme, Veras falou a Fernanda sobre o trabalho de reinserção social da pessoa em estado de sofrimento mental, desenvolvido pela ong Criamundo no hospital.
"Ele me mostrou um pouco esse mundo. Eu tive a oportunidade de ir lá e fiquei bastante impressionada, mas quis conhecer mais e topei o desafio de fazer essa imersão", diz a cineasta.
Distribuição
O longa surgiu depois de 300 horas de filmagem, em um exercício que durou quatro anos (2011 a 2015), com orçamento de R$ 900 mil. Chega esta semana a Salvador, São Paulo e Rio de Janeiro. A partir da próxima quinta estreia em mais 10 cidades em um processo de distribuição independente.
O filme privilegia Leonor e Elisângela, mulheres de classes sociais diferentes, que acabam como personagens principais de um documentário que, mais do que descortinar o cotidiano do Juliano Moreira, revela sensibilidade ao se debruçar na rotina dos atendidos pela Criamundo.
"A gente fez todo um trabalho de ouvir, de escutar, observar", afirma Vareille, ao dizer que a linguagem do filme fala muito sobre as várias etapas pelas quais a equipe passou. "Entramos com um olhar ingênuo e durante esse processo fomos amadurecendo".
Visão antropológica
Fernanda fala sobre o momento em que acompanha Elisângela pelo hospital em um quase plano-sequência até o módulo C: "Ali as pessoas se comunicam com a câmera, querem dar o seu recado. Só que com o passar do tempo fomos sendo esquecidos. Conseguimos então uma visão mais antropológica de estar ali e não ser notado".
A sequência é uma das mais inspiradas do filme, assim como os primeiros momentos que se repetem desafiadores: a câmera baixa e fixa sobre o patamar de uma escada observa o outro lado de uma porta de vidro gradeada como se quisesse redefinir o lugar do paciente e o lugar do espectador e concluir que realmente a loucura está entre nós.