Vamos pensar nas pessoas que aceitariam tomar posse em um cargo público após aprovação em concurso. Estamos tratando da maioria esmagadora dos brasileiros. Por que, então, os que participam de concursos representam um quantitativo bem menor?
A primeira razão para esta diferença é a visão que as pessoas têm sobre o grau de dificuldade das provas, obtida sempre tomando-se por base as provas dos concursos mais difíceis, disputados e famosos. "Quais são eles?", perguntam neste momento alguns leitores. São exatamente os que cada um consegue lembrar sem grande esforço. Faça uma breve pausa na leitura e pense nos concursos que ocorreram nos últimos anos. Anote-os num papel, se possível.
Excluídas os das áreas específicas, terão sido lembrados pela maioria provavelmente os concursos da Petrobras, Justiças Federal, do Trabalho e Eleitoral, Ministério Público da União, Tribunal de Contas da União, Receita Federal, Polícias Federal, Rodoviária Federal, Civil e Militar, INSS, Banco do Brasil, Caixa Econômica Federal, INSS, entre alguns poucos outros. Sim, sem dúvidas estes concursos são difíceis, e quase sempre perdem tempo as pessoas que alimentam expectativas de aprovação na primeira tentativa em alguns deles, em que sabemos que os aprovados normalmente já são servidores públicos com ampla experiência em concursos.
O fato, desconhecido da maioria da população, é que as vagas dos concursos famosos não representam dois por cento sequer das realmente oferecidas nos certames. Outra coisa relevante: muitos concursos não têm aprovados em número suficiente, a ponto de órgãos e entidades se servirem de lista de aprovados de outras instituições. Há casos assim na Receita Federal (não nos cargos de Auditor, Analista ou Técnico, que a maioria pensa que são os únicos), Justiça Eleitoral (Analista e Técnico) e em muitos Conselhos Regionais. Ou seja: em muitos casos basta acertar 50% da prova para ser convocado. E entre alguns cargos de ministérios e agências reguladoras pouco badalados há remunerações que chegam ao triplo da maioria dos cargos lembrados pelos concurseiros.
É claro que na maioria das vezes a remuneração é menor, mas, juntando-a à vantagem da estabilidade, o resultado é algo que vai lhe facilitar a aprovação nos concursos desejados, e com os vencimentos ideais. No mínimo é bem melhor do que a situação atual de muita gente. O problema é que as pessoas comparam a situação possível com a ideal, quando deveriam comparar a situação real atual com a possível.
É compreensível que a simples leitura deste texto não seja capaz de mudar uma concepção construída na mente das pessoas ao longo de muitos anos, mas espero que ao menos sirva para despertar a curiosidade para uma pesquisa que, essa sim, poderia ser capaz de transformar as atitudes, coisa que normalmente só ocorre depois de alguns anos de perda de tempo com estratégias equivocadas. E se a sua pesquisa não for capaz de mudar 90% do que você pensa sobre os concursos, ela foi feita de maneira incompleta. Não perca, portanto, a minha próxima palestra gratuita sobre como se preparar para concursos.
Digo isso com tranquilidade, com base no que as pessoas dizem depois que são colocadas diante de fatos anteriormente desconhecidos. Infelizmente, em boa parte das vezes, a mudança de atitudes não perdura, não passando da primeira semana depois do impacto. É que as coisas voltam à situação anterior, com um monte de gente se inscrevendo no mesmo concurso exatamente pelo fato de todos estarem se inscrevendo. Parece que falta noção de concorrência e sobra espírito de multidão.
A segunda razão para a pequena participação nos concursos é a falta de disposição para continuar disputando uma vaga, às vezes em meio a uma ilusão trazida por uma oferta de emprego que somente no começo é interessante.
Há pessoas que têm um resultado excelente nos primeiros concursos. Por exemplo, entre 50 mil candidatos, para 30 vagas, alguém que se classifique entre as 3 mil primeiras colocações precisa saber que superou muita gente que já estudou bem mais e já fez muito mais concursos. Ao contrário, a visão que a pessoa tem é a de que ficou muito longe das vagas, e que deve desistir, pois não terá chance de passar. Nunca vai imaginar que três ou quatro anos depois esse mesmo concurso pode chamar até o 2.900º colocado, como ocorre com frequência, e que portanto ela ficou bem perto. Ou que ela pode ter sido chamada e não soube, como acontece todo ano com milhares de pessoas.
Infelizmente a sua referência será sempre a de que ficou muito longe das 30 vagas que o edital anunciou. E enquanto pessoas assim se afastam dos concursos, por desconhecimento dos fatos e erro de análise, muitos outros em condições menos favoráveis de base de conhecimento estão ocupando as vagas.
Essa falta de disposição tem uma explicação simples, e uma solução mais simples ainda. No próximo texto falarei sobre como continuar se dedicando aos concursos até passar, mesmo que os primeiros resultados pareçam ruins.
* Advogado da União, palestrante, professor e autor do livro "Concurso público - estratégias e atitudes"