Cantora sobe ao palco nesta quinta-feira
Ela confessa que o nome não passa de mera coincidência. Mas conta que, ao ser apresentada pelo pai ao clássico Marina, de Dorival Caymmi, achava que a música lhe pertencia. Era coisa de criança. E Marina de La Riva mal sabia que um dia estaria rendendo loas à obra do compositor baiano.
É com essa missão que ela sobe ao palco principal do Teatro Castro Alves, quinta-feira, 29, à noite, inaugurando a programação do projeto Verão MPB.
Mesmo sabendo que soa clichê, a cantora revela que o insight veio num momento de reflexão diante do mar. Era início de 2014, ano em que Caymmi completaria um século de nascimento.
"Na verdade, esse projeto nem casava com o que eu estava fazendo naquele momento. Mas quanto mais eu pensava no assunto, mais entendia meu link com o ambiente de Caymmi", diz a cantora, que na época ainda colhia o frutos de Idillio, seu segundo disco.
Simples e sofisticado
"A minha relação com Caymmi está nessa trama do amor pela música. Ele está na minha memória afetiva, como acho que está na de todo brasileiro. Mas houve um momento em que entendi que fazia sentido não só para aquela Marina que já tinha a música como labor", acrescenta a cantora.
Para dar conta de interpretar um dos maiores compositores da música popular brasileira, que "parecia ser simples, mas era muito sofisticado", ela aceitou a escolta do baiano Ricardo Valverde, que assina a direção musical do espetáculo.
Sob seu comando, Marina de La Riva reuniu um grupo de "chorões" de São Paulo, cidade onde vive há 20 anos, desde que deixou sua terra natal, Baixa Grande da Leopoldina, no interior do Rio de Janeiro.
A banda é formada por Cleber Silveira (acordeon), Fábio Sá (baixo acústico), Wesley Vasconcelos (violão de sete cordas) e Agnaldo Luz (bandolim e cavaco). O próprio Ricardo Valverde também atua como músico, com vibrafone e percussão.
Melancolia velada
Juntos, eles prometem receber o público com um set-list que vai da toada às canções de amor, passando por sambas e ritmos folcóricos.
É Doce Morrer no Mar, Vestido de Bolero, Acalanto e Você Não Sabe Amar são algumas das canções que têm presença confirmada. Mas de um jeito diferente. "Tanta gente já fez isso de forma tão maravilhosa. Eu precisava encontrar o meu Caymmi", reflete a cantora.
Por isso, ela arriscou juntar o Acalanto do compositor baiano com o acalanto que o pai cantava para ela quando criança. Risco maior foi incluir Só Louco no repertório. "É uma dificuldade abismal cantar esse música depois que Nana gravou. Mas gosto tanto que acabei pedindo 'permissão interna' e vou fazer", adianta.
Quem não conhece a história de Marina de La Riva vai começar a entender quando ela fizer as canções de Caymmi se revezarem com músicas cubanas de domínio público. Até uma oração em espanhol está no script do show. São referências à família.
"Quando eu era pequena, meu avô falava comigo em espanhol e eu respondia em português. Levei uma vida para entender que eram duas línguas diferentes", brinca.
Mas não qualquer família e, sim, uma formada por um pai cubano exilado e uma mãe brasileira. "Uma família que deixa sua pátria à força tem uma melancolia diferente. É uma melancolia velada, que se reflete nos hábitos, na comida e, claro, na música", avalia a artista.