Chico Castro Jr.
Marcelo Nova e Robério Santana são os únicos integrantes originais do Camisa de Vênus
É segunda-feira, 27, quase cinco da tarde. E Marcelo Nova está morto - de cansaço, claro. "Rapaz, tô exausto. Morto!", conta, pelo telefone. "Fiz sete shows em nove dias. Quatro com o Camisa e três solo". Mas os fãs baianos não precisam se preocupar. Neste sábado, o homem estará descansado e pronto pra botar pra f#$%.
É no sábado, às 22 horas, que Salvador recebe o show dos 35 anos de formação do Camisa de Vênus, a banda mais mal-criada, boca suja e afrontosa que já pisou por estas bem-comportadas bandas. Liricamente mal-criada, claro.
Afinal, este senhor não é mais um garotinho. Nem o baixista Robério Santana, único membro original na formação além de Marcelo. Garotos são os outros músicos na banda: Drake Nova (guitarrista e filho de Marcelo), Leandro Dalle (guitarra) e Célio Glouster (bateria).
Quando pisarem no palco do Barra Hall, o Camisa já terá cumprido boa parte de sua turnê iniciada em maio, tendo passado pelo Rio de Janeiro, São Paulo, Fortaleza, Natal, Recife, Porto Alegre, Novo Hamburgo (RS), Belo Horizonte, Curitiba e Santo André.
Entre um e outro, Marcelo ainda faz seus shows solo pelo interior de São Paulo. Se ele está curtindo? "Não poderia ser melhor. Na verdade, o Camisa tem 28 anos que não faz uma turnê", lembra. "A última foi em 1987, no lançamento do álbum Duplo Sentido. Até nos anos 1990, quando lançamos os discos Plugado! (1995) e Quem é Você (1996) fizemos poucos shows, nada que cruzasse o país como agora. Então essa é a primeira tour em 28 anos, o que demonstra quão velho eu estou", acrescenta.
No repertório, adequado para um show comemorativo, só sucessos: Bete Morreu, Passatempo, O Adventista, My Way, Symca-Chambord, Silvia, Negue, Eu Não Matei Joana D'Arc, Gotham City, etc.
Ficou facinho
E não, não adianta perguntar: Marcelo não fala sobre a facção dissidente formada pelos ex-guitarristas Karl Hümmel e Gustavo Mullen com o vocalista Eduardo Scott, que utilizou o nome Camisa de Vênus durante alguns anos em shows e até em um álbum ao vivo.
Ele afirma que a volta para essa série de shows foi motivada pelo convite feito pelo empresário Júnior Valladão (o famoso irmão de Nasi, do Ira!), da Agência Produtora.
"A empresa dele é uma das maiores agências de shows do Brasil. Tenho uma relação pessoal e profissional muito boa com ele. Em janeiro ele me ligou dizendo 'parabéns, em 2015 faz 35 anos que você montou o Camisa'. Eu mesmo não tinha notado", relata.
"Aí ele disse que queria produzir essa turnê do Camisa. A partir daí tivemos algumas reuniões. Porque não me interessava fazer meia dúzia de shows", conta.
Exigente, Marcelo pleiteou correr o país de cima a baixo com uma equipe técnica de primeira: "Eu quero som e luz primorosos. Depois falei com Robério e ele disse 'tô dentro'. E assim foi. Como já tô com o Drake, Leandro e Celinho há sete anos, eu já tinha uma cozinha montada. Aí ficou muito fácil, a verdade é essa", diz.
Perto de completar 64 anos (dia 16 próximo), Marcelo ainda não pensa em lançar sua biografia tão rapidamente: "Tenho conversado com o (jornalista André) Barcinski. Mas vou devagar, é que surgiu uma febre impressionante de biografias no rock. A maioria é muito chata, é só droga, overdose, 'dei um murro na cara de fulano' e tal, essas coisas que mantêm a mística do rock. Muito interessante para meninos, mas eu tenho 63 anos. Não me vejo como um Peter Pan do rock para percorrer esse caminho adolescente", afirma.