Belarus reconheceu hoje ter interrompido o transporte de petróleo russo para Polônia, Alemanha e Ucrânia, devido a um conflito comercial com Moscou, o que cria um novo problema para a segurança energética da Europa.
A Comissão Européia (CE), Varsóvia e Berlim denunciaram a interrupção do fornecimento pelo oleoduto Druzhba, que passa por Belarus. Moscou acusa Minsk de apropriar-se ilegalmente do petróleo, e ameaçou o país vizinho com sanções comerciais.
Um representante do oleoduto bielo-russo Gomeltransneft-Druzhba declarou à agência russa "Interfax" que essa companhia "não bombeia petróleo para Polônia, Alemanha e Ucrânia desde o último fim de semana, por disposição do consórcio estatal Belneftekhim".
Horas mais tarde, o vice-ministro de Economia e Comércio russo, Andrei Sharónov, anunciou que a Rússia suspendeu o bombeamento de petróleo através de Belarus, devido à interrupção por Minsk do transporte da matéria prima para a Europa.
"Já não nos preocupa o problema da imagem, mas o cumprimento dos contratos. Os fornecedores russos informarão seus parceiros ocidentais de que, por razões de força maior, não podem cumprir as obrigações assumidas", disse Sharónov.
Em Bruxelas, o porta-voz de Energia da CE, Ferran Tarradellas, disse que a Comissão pediu explicações a Moscou e Minsk sobre o corte, e considera convocar uma reunião do grupo de fornecimento de petróleo do bloco para avaliar o impacto da medida e tomar decisões a respeito das reservas européias.
Segundo Tarradellas, a Polônia tem reservas de petróleo para mais de 70 dias, e a Alemanha, para mais de 130 dias. Ele assegurou que não há risco imediato de cortes no fornecimento da União Européia (UE).
"A insegurança do fornecimento dos estados da antiga URSS foi demonstrada mais uma vez", denunciou o vice-ministro da Economia polonês, Piotr Naimski, que atribuiu o corte ao conflito entre Moscou e Minsk pelas tarifas da exportação de petróleo.
Belarus decidiu, na semana passada, cobrar taxas de forma retroativa pela passagem do petróleo russo pelo país, depois que Moscou duplicou o preço do gás vendido a Minsk.
A Rússia exporta pelos oleodutos bielo-russos quase 100 milhões de toneladas anuais de petróleo. Deste total, 70% têm como destino Polônia, Alemanha e Ucrânia, ao tempo que 30% vão para os países bálticos.
Esta interrupção ressuscita os temores de Bruxelas de que se repita uma crise como a de janeiro do ano passado, quando a Rússia interrompeu o fornecimento de gás à UE devido a divergências sobre preços com a Ucrânia, país por onde passam 80% do gás russo que vai para a Europa.
Desde essa crise, a UE tornou a segurança energética uma de suas prioridades. A CE, braço executivo do bloco, planeja apresentar nesta quarta-feira uma nova estratégia para o setor, destinada a evitar problemas deste tipo.
"Trata-se de um problema sério, pois atinge a Polônia e as refinarias do leste da Alemanha, que recebiam petróleo através do oleoduto Druzhba, assim como a Eslováquia e a República Tcheca, que deveriam receber o petróleo pelo oleoduto Druzhba 2, que passa pelo sul da Ucrânia", assinalou Naimski.
O presidente da companhia russa Transneft, Semyon Vainshtok, por sua vez, denunciou que Belarus iniciou no sábado a extração ilegal de petróleo do oleoduto Druzhba.
"Em 6 de janeiro, a parte bielo-russa começou, de forma unilateral e sem avisar a ninguém, a extrair ilegalmente petróleo do oleoduto Druzhba, destinado exclusivamente ao transporte da matéria-prima a consumidores da Europa ocidental", afirmou.
Vainshtok afirmou que, desde sábado, Minsk "roubou" do oleoduto mais de 79 mil toneladas de petróleo, e disse que a "Transneft está tomando todas as medidas possíveis para aumentar o fornecimento aos clientes na Europa ocidental por outras rotas".
"Belarus deve voltar a cumprir as normas internacionais, que proíbem as medidas discriminatórias contra o fornecimento de petróleo", disse.
No sábado passado, Minsk acusou a Transneft de contrabando, por fornecer petróleo à Europa através de Belarus, sem que o litígio bilateral sobre as tarifas alfandegárias fosse solucionado.
À noite, Belarus enviou uma delegação a Moscou para negociar uma trégua urgente para a "guerra do petróleo", mas o Governo russo afirmou que não haverá diálogo até que Minsk suspenda suas "tarifas ilegais".
"Belarus reduziu o trânsito das exportações russas, com o argumento de que embarga esse petróleo como pagamento da tarifa que impôs de forma retroativa", disse Sharónov, que ameaçou Minsk com represálias.
Segundo ele, a "Rússia é o maior mercado e o principal parceiro comercial de Belarus, e, portanto, tem instrumentos coercitivos suficientes" contra o regime do presidente bielo-russo, Alexander Lukashenko.