Depois do anúncio do presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, sobre a descoberta de novos poços de petróleo da estatal Petrobras, o que se segue às recentes mudanças da regulamenteção no setor no Equador, o panorama petroleiro da América Latina tem os olhos da comunidade internacional voltados para si.
A disparada dos preços do petróleo fortalece na América Latina os líderes que endureceram sua posição frente às empresas multinacionais e aqueles que tentam politizar a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP).
Da Venezuela, sexto exportador mundial, ao Equador, passando pela Bolívia, os dirigentes da esquerda radical, hostis aos Estados Unidos, alavancam sua popularidade com medidas extremas para recuperar os recursos naturais em seus países.
O presidente equatoriano Rafael Correa decidiu pelo retorno de seu país à OPEP, e a organização o convidou para participar de sua próxima reunião de cúpula na Arábia Saudita. No encontro, que acontece na capital Riad nos dias 17 e 18 de novembro, Correa deve falar sobre a renegociação dos contratos petroleiros em seu país, a exemplo de seus colegas Hugo Chávez, da Venezuela, e Evo Morales, da Bolívia.
Quinto maior produtor latino-americano, o Equador - que junto com a Venezuela será o segundo membro da OPEP da região - obrigou as empresas estrangeiras a repassarem 99% de seus lucros adicionais (obtidos pelo aumento dos preços do petróleo bruto após a assinatura dos contratos), que chegam a 840 milhões de dólares.
O ministro do Petróleo equatoriano, Galo Chiriboga, afirmou que a OPEP "vai se fortalecer com a presença de um país sul-americano que tem um papel importante no contexto latino-americano e mundial".
"O objetivo de Correa e Chávez é politizar a OPEP, que agora é apenas uma estrutura técnica. O próximo passo é trazer Morales", declarou à AFP Jorge Pareja Cucalon, ex-presidente da Petroecuador.
Segundo o analista, especialista em petróleo, estes países latino-americanos podem causar uma divisão na OPEP, formando com o presidente do Irã, Mahmoud Ahmadinejad, além da Líbia e de Angola, um "grupo oposto aos países do Golfo, tradicionais aliados dos Estados Unidos
A idéia de recuperar o controle sobre a exploração dos hidrocarbonetos, transformando aos poucos os sócios estrangeiros em prestadores de serviços, caiu nas graças da opinião pública, mas ainda corre riscos.
"É um gesto eleitoreiro, os fortalece regionalmente, há benefícios econômicos a curto prazo. Mas isso pode gerar também uma queda dos investimentos estrangeiros", declarou à AFP Simon Pachano, cientista político da Faculdade Latino-Americana de Ciências Sociais em Quito.
O especialista relativiza o "aspecto simbólico" da luta entabulada pelo grupo latino-americano na OPEP para influenciar o mercado petroleiro.
"Na verdade, a OPEP não tem mais a influência que tinha nos anos 70. Os preços do petróleo dependem agora de vários fatores: a guerra no Iraque, o problema da Rússia, a demanda chinesa", explicou.
Pelo contrário, os países latino-americanos que proclamaram a "nacionalização" dos hidrocarbonetos "têm muito a perder com a insegurança jurídica" gerada por essa mudança nas regras do jogo, alertou Pareja Cucalon.