Seduzido pelos preços baixos proporcionados pelo período de promoções, consumidor termina caindo em armadilhas
Berna Farias
Fim do período de festas, começa a correria das liquidações e promoções. As lojas, mais vazias depois da movimentação do Natal e Ano-novo, enchem as vitrines com produtos em oferta para seduzir o consumidor. Comprar nos meses de janeiro e fevereiro, quando normalmente acontece o período de liquidação, pode ser um bom negócio, mas também uma armadilha.
Todo cuidado é pouco para não ser enganado, pagando o preço normal da mercadoria como sendo promocional ou levando para casa um produto defeituoso.
A presidente do Movimento de Donas-de-Casa e Consumidores da Bahia (MDCCB), Selma Magnavita, aconselha o consumidor a não se deixar levar pelo preço baixo. Além do preço, tem que entrar a qualidade. Não interessa pagar menos e levar para casa um produto com defeito, diz. Ela enumera três fatores que considera fundamentais para uma boa compra, especialmente em liquidações: não comprar por impulso, pensar bem se precisa realmente daquele produto e se pode pagar por ele.
Verificar se o preço é, de fato, promocional é outra dica importante. Tem que ver, ainda, se a roupa não tem uma mancha, uma costura malfeita, se o móvel ou aparelho eletrônico não tem arranhões. Às vezes, o preço está mais baixo por causa disso, adverte Magnavita. E aconselha que o cliente exija, por escrito, do vendedor, que ele se comprometa a trocar o produto em caso de defeito. A anotação pode ser feita na nota fiscal ou no canhoto do talão de cheques. Se fizer isso, o consumidor estará protegido, assegura.
NAMORO NA VITRINE Consumidora atenta e responsável, a pedagoga Maria Cristina Bustani é, também, uma boa observadora. Como freqüenta muito shopping centers, ela percebe, nas liquidações e promoções, um ou outro caso em que as roupas do balaio nem sempre são aquelas que ficam nas araras.
Isto acontece mais nas lojas que não são de grife. Portanto, observe a qualidade das peças. Isto é mais fácil de fazer em uma loja que você já conhece, porque dá para saber se os artigos em promoção correspondem aos vendidos normalmente na loja, aconselha.
Cristina acha que algumas lojas podem até usar esse artifício, de colocar artigos mais baratos à venda, para ficarem engajadas na promoção conjunta do shopping. Mas diz que vale a pena aproveitar uma liquidação para comprar uma peça que ficou, durante o ano todo, com preço alto. Principalmente aquelas de marca.
Muitas pessoas que conheço esperam os finais de estação para comprar. No meu caso, gosto de observar. Namoro a peça na vitrine, se ela me atrai. Às vezes entro na loja, experimento, mas não compro de primeira. Quando gosto, mesmo, volto e compro, independente do preço, não sou muito de pechinchar. Se eu puder, compro. Se não, espero a promoção, comenta a pedagoga.
Objetivo é reduzir estoque
Liquidação não é feita para beneficiar o consumidor. A opinião, incisiva, é do superintendente do Procon-Bahia, Archimedes Pedreira Franco. O objetivo desse tipo de promoção é dar ao fornecedor um meio de livrar-se do que ele não julga mais interessante ter em seu estoque. Outro objetivo é escoar, desovar mercadorias que não estão mais compatíveis com a época.
Archimedes ressalta que, como estamos no verão, os artigos da estação anterior podem não ser recomendáveis, especialmente os de vestuário. Os comerciantes querem renovar as vitrines com a nova moda de verão, e quem vai comprar roupa tem que estar atento: aquele artigo liquidado hoje não vai ter, em tese, utilização imediata, e pode sair de moda daqui a poucos meses, quando voltar a estação da primavera.
A não ser que a pessoa adquira peças mais clássicas, ou ela tenha um perfil conservador e use sempre os mesmos estilos de roupa e calçado, avalia.
Ele observa, ainda, que é difícil encontrar, nas liquidações, os números de roupa e sapato usados pela maioria das pessoas. Número 42 de sapato masculino e número 3 de camisa, que correspondem à média, quase não se encontra. As liquidações permitem que o fornecedor descarte os modelos para os quais não existe mais numeração completa.
E recomenda cuidado especial com os produtos com pequenas avarias e aqueles que ficam em exposição nas vitrines das lojas, como peças de mostruário. Exija a discriminação de cada uma das avarias, aconselha.
De fato, a liquidação em janeiro é uma forma de atrair consumidores que, nas festas de Natal e Ano-novo, já gastaram tudo o que pretendiam ou podiam gastar. Os comerciantes tentam combater a queda nas vendas baixando os preços dos produtos, fazendo promoções para convencer quem vai às lojas trocar os presentes natalinos, facilitando o pagamento com prazos mais longos ou parcelas menores.
PRECAUÇÃO Conhecedor de toda a movimentação do comércio varejista, Carlos Roberto Oliveira, gerente de Operações da Câmara dos Dirigentes Lojistas de Salvador (CDL), garante que as liquidações são bons momentos para aproveitar oportunidades, quando os lojistas que não esgotaram seus estoques estarão abrindo mão de alguns percentuais de lucro e os demais procuram atender à demanda do mercado, em uma cidade ainda cheia de visitantes.
As liquidações, agora, são pontuais. A mais abrangente, a Liquida Salvador, será de 30 de março a 9 de abril, lembra.
Oliveira ressalva que, para fazerem uma boa aquisição e não se arrependerem depois, as pessoas precisam, primeiro, saber o que querem consumir e se os produtos atendem às expectativas delas, tanto em qualidade quanto em preço. Outra precaução é quanto a produtos com algum tipo de avaria: os defeitos devem ser descritos, pelo lojista, na nota fiscal. O consumidor também tem que ter em mente que as liquidações costumam oferecer peças únicas, em modelo e número.
Tomando esses cuidados, não vejo desvantagem nas liquidações. As lojas estão com menor fluxo de pessoas, os produtos, com preços mais sedutores e condições mais favoráveis de pagamento. É um período de pouca demanda, e acaba sendo muito interessante tanto para o consumidor quanto para o lojista.
Dicas úteis
Pesquise preços e compare-os com os de lojas que não estão liquidando e com os de outras que também estejam em liquidação
Antes de sair de casa, consulte folhetos publicitários ou encartes e confira anúncios de TV e jornais sobre as promoções, o que evita a compra por impulso
Avalie seu orçamento para não gastar mais do que pode só porque os preços estão mais baixos
Tente comprar com calma, examinando bem os produtos e levando em conta a menor variedade de itens à venda
Nas compras por internet, confira o produto na hora da entrega. Se constatar diferença em relação ao pedido original, devolva o item na hora e anote o problema na nota fiscal
Nem todos os itens estão disponíveis nos tamanhos e cores desejados. Para encontrar o que quer, pesquise muito
Não adquira algo que não deseja apenas para aproveitar a promoção
Avalie desde o estado de conservação da mercadoria até pequenos defeitos
Eletrodomésticos e eletroeletrônicos devem ser testados no local da compra
Mesmo em liquidação, produtos com defeito devem ser, obrigatoriamente, trocados pelo lojista, exceção para quando o consumidor foi avisado sobre o vício e mesmo assim concordou em levar o produto
Guarde folhetos e anúncios publicitários como forma de garantir direitos. A publicidade faz parte do contrato
Garantias oferecidas pelas promoções devem estar especificadas com clareza na nota fiscal
Não há regras para pagamento de produtos em promoção, devendo ser aceitos, inclusive, os cartões de crédito, considerados como forma de pagamento à vista
Se o pagamento for parcelado, fique atento ao valor dos juros, para que o produto não acabe saindo pelo preço normal em virtude dos acréscimos
Se utilizar cheques pré-datados, emita-os sempre nominais à loja, anotando no verso o dia combinado para depósito. Essa informação também deve constar da nota fiscal
Apesar da correria comum nas liquidações, o contrato de compra deve ser lido com atenção
Fontes: Fundação Procon-SP; www.defenda-se.inf.br; www.estadao.com.br; www.idec.org.br
Não compre gato por lebre
Alimentos Confira data de validade, estado de conservação e de higiene. No caso de carnes, veja se há carimbo do Serviço de Inspeção Federal (SIF). Embalagens de produtos industrializados devem trazer em letras legíveis: data de fabricação, prazo de validade, composição, peso, modo de usar, advertência sobre os riscos etc. Não leve: embalagens estufadas, enferrujadas, amassadas, furadas, rasgadas, violadas ou que estejam vazando
Brinquedos As embalagens devem ser de fácil leitura, identificando o material utilizado, os possíveis riscos para a criança e a idade para a qual o produto é indicado
CDs Verifique a qualidade do material impresso. Produtos originais são de melhor qualidade e possuem o nome, o endereço, o CNPJ da gravadora, código de barras e selo holográfico
Computadores, eletroeletrônicos e eletrodomésticos Teste o produto na hora da compra e exija, além da nota fiscal, certificado de garantia, relação de assistências técnicas que prestam serviço e manual de instruções em português
Móveis Certifique-se da qualidade da madeira, verifique prateleiras, gavetas, divisões internas, maleiro e base de armários e guarda-roupas (que devem ser firmes e resistentes). Abra portas e gavetas para ver se deslizam bem. No caso de camas, verifique se os encaixes são firmes e se o estrado é resistente e seguro
Roupas Veja se o que está sendo anunciado corresponde ao que é vendido. Liquidação de tecidos de lã deve vender lã e não acrílico, por exemplo. Experimente a peça e observe todos os detalhes: botões, zíper, costura e acabamento
Fonte: www.defenda-se.int.br