O servidor público José Antonio Rodrigues, chamado pelos amigos de Merengue, já virou referência no Porto da Barra. Lá, o vigilante troca o traje formal do uniforme por roupas leves, apropriadas para o calor da praia e para atender os clientes ávidos por uma água de coco geladinha.
Nesse período compenso as vendas mais fracas do inverno, revela Merengue, que começou a complementar o salário comercializando coco em um carrinho. Quatro anos depois, já possui uma frota com nove. Falto só um ano e um pouquinho para me aposentar como servidor. Quero continuar me dedicando aos negócios, planeja.
Próximo a Merengue, a vendedora ambulante Norma Araújo controla a caixa de isopor com bebidas e cuida dos três filhos, menores de quatro anos. De domingo a domingo, ela sai do bairro de Fazenda Coutos para o Porto da Barra, onde consegue tirar o sustento dos nove filhos. Tem dia que vendo bem, tem dia que cai (a venda). Só no verão é que é mais difícil voltar para casa sem nenhum (dinheiro), garante.
É quando a estação mais badalada do ano chega que a cabeleireira Zélia Souza acampa na orla de Salvador para modificar os cabelos dos turistas. Os visitantes não resistem à idéia de trançar as madeixas ou dar um toque diferente com mega-hair, terêrês ou apliques. De todo o período do verão, o movimento maior vem com o carnaval, diz Zélia, que conta com a ajuda de duas outras pessoas para atender os clientes.
O preço é definido na hora. Se for turista cobro um pouco a mais, revela, sem rodeios. Antes de se aventurar na calçada, Zélia trabalhava em um salão. Problemas na coluna a afastaram do emprego. Só quando melhorei, comecei a trabalhar por conta própria, conta.
Não ter patrão foi também a opção do vendedor ambulante Fábio Xavier. Servi à Aeronáutica por dois anos em São Paulo e, quando decidi voltar para a minha terra natal, coloquei na cabeça que só trabalharia para mim mesmo, diz. Não há do que se arrepender. Dependendo do dia, tiro até R$ 150. No final do mês, o lucro passa de R$ 1.200, comemora.
Os rendimentos ainda não são tão certos para o artesão Frikson Rebouças quanto para Fábio. Meu artesanato é novo no mercado. Trabalho com couro, chifre e palha. Leva um tempo para as pessoas perceberem, comenta.
Todo final de ano e em épocas de festa, Frikson deixa a oficina na Barra do Gil, onde mora, e transforma o bugre em uma grande prateleira itinerante. No carnaval trabalho a noite toda. É o melhor período. Depois viajo para Porto Seguro, Itacaré e para as vaquejadas, conta. (D.S.)