A manutenção do crescimento da economia mundial pode estar ameaçada. A Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) indicou que o PIB mundial deverá de fato aumentar em 2006 e possivelmente em 2007, mas já lançou um alerta: os altos preços do petróleo, a falta de um acordo na Organização Mundial do Comércio (OMC) e os desequilíbrios nas contas norte-americanas podem afetar de forma dura as previsões do desempenho da economia internacional.
Segundo o secretário-geral da OCDE, Angel Gurria, a questão central é saber se esses riscos vão se materializar e como vão ser acomodados pelas várias economias. Ao mesmo tempo em que isso ocorre, Estados Unidos e europeus elevam suas taxas de juros, um fator que poderia reduzir o ritmo de crescimento da produção mundial. O Japão ainda tomou, há poucos dias, a histórica decisão de acabar com a taxa de juro zero e a elevou pela primeira vez em anos.
Sobre a questão dos preços do petróleo, que atingem níveis recordes nas últimas semanas, a preocupação da OCDE é com o impacto sobre a inflação. Já quanto ao déficit americano, o impacto poderia ser sentido cada vez mais no dólar.
Quanto ao comércio, a OCDE alerta que o risco de fracasso nas negociações da OMC pode indicar que o atual processo será o último e que o modelo de "rodadas" de negociações poderá ser substituído por outras estratégias. Desde 2001, a comunidade internacional negocia a Rodada Doha, que teria como função abrir mercados agrícolas e garantir também certas vantagens para os países ricos.
Para Gurria, o que vem ocorrendo é que os governos estão mais preocupados em resguardar suas situações domésticas e interesses políticos que resolver o problema de tarifas aduaneiras e subsídios no sistema internacional do comércio.
EncontrosO chanceler Celso Amorim chega neste sábado a Genebra para reuniões com os principais atores da OMC para tentar desatar o nó na Rodada Doha. Hoje, porém, já poderiam ocorrer reuniões bilaterais com os Estados Unidos. Washington está sendo pressionado para apresentar uma proposta nova de cortes de subsídios e alerta que, ainda que esteja pronto para fazer concessões, espera que os demais países também tragam novas ofertas.
Na missão brasileira em Genebra, a esperança é que a diplomacia americana dê alguma sinalização à Amorim sobre o que pretende fazer nos próximos dias. "Se não houver nada mais sobre a mesa, cresce cada vez mais o risco de um fiasco geral na OMC", concluiu um experiente diplomata.