O fraco desempenho da economia no segundo trimestre surpreendeu pela magnitude, mas já era esperado por economistas, analistas do mercado financeiro e até pelo governo. As explicações, como se sabe, passaram pelo ?efeito Copa?, pelo crescimento das importações e pelo baixo investimento.
Há um ponto, porém, que tem passado ao largo das análises: estaria o Brasil crescendo abaixo de suas possibilidades? Essa pergunta remete a uma expressão muito discutida desde o início do governo Lula: PIB potencial. O PIB potencial é uma estimativa de quanto um país pode se expandir sem provocar pressões inflacionárias e/ou gargalos no balanço de pagamentos. No caso brasileiro, há um consenso de que, nas condições atuais, o crescimento do Produto Interno Bruto tem de se manter entre medíocres 3% e 3,5% ao ano. O Banco Central utiliza a medida para calibrar a taxa de juros, mas não admite isso oficialmente.
Muitos especialistas, aliás, são contrários ao uso do PIB potencial porque acreditam que, embora se trate de um cálculo complexo, tem pouca exatidão. O economista e deputado federal Delfim Netto é ácido crítico do conceito e já chegou a defini-lo como tarometria, mescla de tarô com econometria.
Divergências à parte, o fato é que o Brasil de Lula cresceu 0,5% em 2003, 4,9% em 2004, 2,3% em 2005 e caminha para, no máximo, 3,5% em 2006. Na média, portanto, a expansão seria de 2,8%. Ou seja, abaixo do PIB potencial estimado pelo mercado. ?O problema é que o PIB potencial brasileiro é menor que 3%?, afirmou o economista Paulo Tenani, chefe de pesquisa para América Latina do UBS Wealth Management, pertencente ao banco suíço UBS. Tenani lembra que, de 1981 para cá, o PIB cresceu, em média, 2,2%. ?Esse porcentual não paga nem o crescimento populacional nem a depreciação das empresas.?
Se o passado é nebuloso, o futuro, na opinião de Tenani, reserva boas surpresas. O economista acredita que a taxa básica de juros no Brasil cairá mais do que se espera - sua projeção é de que a Selic estará em 10% no fim de 2007 -, o que levará inexoravelmente a um ciclo de investimentos e, portanto, de mais crescimento. ?O PIB poderá crescer entre 4% e 4,5% ao ano sem problemas, o que é fantástico para o nosso padrão histórico?, disse. ?Mesmo assim, será menos do que a média dos outros países emergentes.?
O economista-chefe da Sul América Investimentos, Newton Rosa, concorda com idéia de que o Brasil está crescendo abaixo de seu potencial. ?Prova disso são os dados recentes da indústria, que apontam ociosidade?, exemplificou. Mas não sabe explicar por que isso ocorre. Na opinião dele, o BC, apontado como vilão por muitos especialistas, por causa da rigidez com que conduz a política monetária, não é o culpado. ?Temos de lembrar que o BC errou a mão em 2004.?
Naquela ocasião, o Brasil vinha de um ano de crescimento pífio e o BC acabou promovendo reduções seguidas da taxa básica de juros. ?Depois teve de subir de novo, porque a inflação assustou.? De fato, os dados divulgados pelo IBGE mostram que o consumo das famílias, sensível ao crédito e à inflação, cresceu 1,2% e salvou o PIB do 2º trimestre de um desastre.
De acordo com Rosa, a maior responsável pelo baixo crescimento do País - não apenas em 2006, mas de 1990 para cá - é a taxa de investimento, que tem ficado na casa de 19% do PIB. ?Isso leva a uma produtividade baixa que, por sua vez, reduz a oferta da economia.? Não é à toa, portanto, que o programa de governo de Lula para um eventual segundo mandato traz como um dos pontos-chave a elevação dessa taxa para 25% do PIB.
Sérgio Vale, economista da consultoria MB Associados, vai na mesma linha de seu colega da Sul América e absolve o BC da culpa pelo crescimento abaixo do potencial. ?O BC tem seus argumentos para justificar a condução da política monetária?, disse. Segundo ele, países que adotaram o sistema de metas de inflação, como o Brasil, têm optado entre dois caminhos para reduzir os índices de preços: um rápido e outro gradual. ?O governo brasilei
conceito é que o Departamento de Economia do Bradesco está trabalhando na elaboração de um modelo de PIB potencial. ?Bancos centrais do mundo todo têm olhado para essa medida quando vão definir o rumo da taxa básica de juros?, explicou um economista da instituição. Apesar disso, ele lembra que é algo difícil de calcular e, portanto, ?sujeito a erros?.