O potencial de alavancagem que as medidas anunciadas pelo governo têm sobre o crédito imobiliário é restrito, na visão de executivos do setor bancário.
Em alguns casos, o mercado já tentou fórmulas semelhantes às apresentadas nesta terça-feira, sem sucesso. É o caso da linha do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para financiar a compra de imóveis para funcionários de empresas que já utilizam recursos do banco.
"Eu tenho uma linha no Itaú para as empresas... estou há um ano procurando uma empresa que queira fazer (para seus funcionários) e não encontrei", afirmou à Reuters o diretor de crédito imobiliário do Itaú, Luiz Antonio Rodrigues.
Segundo ele, as empresas não querem ficar com o risco dos empregados com a possibilidade de que eles deixem o emprego.
"As medidas são boas, mas não se pode esperar grandes milagres", acrescentou o diretor, que gostou mais da desobrigação do uso da Taxa Referencial (TR) para correção dos empréstimos.
Na prática, segundo Rodrigues, essa medida vai permitir a redução da taxa cobrada nas linhas prefixadas que os bancos já vinham lançando. Por serem financiados com recursos de mercado, à taxa de juros corrente (CDI), esses empréstimos tinham custo alto. No Itaú, a taxa era de 18,45 por cento ao ano.
"Nesse nível de taxa, ninguém compra", disse Rodrigues. Ele prevê que o custo dessa linha caia para pouco mais de 14 por cento ao ano --praticamente o mesmo percentual dos empréstimos que cobram TR mais 12 por cento ao ano, só que com taxa prefixada.
Antes de mudar as condições de sua linha, no entanto, o Itaú vai avaliar os limites de prazo e de oferta de recursos nessa linha, devido ao risco de ficar comprometido com uma taxa pós-fixada recebendo uma remuneração fixa.
No HSBC, que no final do mês passado lançou um financiamento imobiliário com taxa de 1 por cento ao mês, livre de correção pela TR, os limites de concessão começam pelo valor do bem, que tem de ser avaliado em pelo menos 200 mil reais. O prazo máximo é de 10 anos.
O produto é desenhado como uma bonificação: para quem paga em dia, não há correção. Se a parcela for paga mais de um mês após o vencimento, a TR é adicionada ao 1 por cento mensal. Mas a correção é novamente cortada se o mutuário voltar a pagar em dia.
A utilização do crédito consignado para financiar a compra de imóveis, incluída no pacote, já era vista com ceticismo há pouco mais de um mês pelo presidente do Bradesco, Márcio Cypriano.
Questionado quanto a essa possibilidade durante entrevista sobre os resultados do maior banco privado do país, Cypriano disse achar difícil o uso da modalidade por envolver o comprometimento de parte da renda por um prazo longo demais.
Para Rodrigues, do Itaú, o consignado imobiliário só deve pegar para funcionários públicos. Na iniciativa privada, o risco de perda do emprego deve dificultar a concessão.
FILÃO DO VAREJO
Todos os maiores bancos do país apostam no setor como um filão do varejo a ser explorado. O Bradesco já emprestou 1 bilhão de reais para habitação no primeiro semestre, cumprindo a primeira etapa da meta de financiar neste ano 2 bilhões de reais somente nessa modalidade.
O HSBC, sexto maior banco privado do país, pretende fazer 1,5 bilhão de reais em crédito imobiliário até o fim de 2007, com a ajuda do chamariz lançado no mês passado, com taxa de 1 por cento ao mês.
No Itaú, segundo maior banco privado do país, a meta é emprestar 1 bilhão de reais neste ano.
Todo esse volume de recursos é capaz de aquecer o mercado, mas, para o vice-presidente de Relações com Investidores do banco, Alfredo Setubal, salto mesmo o segmento só tem chances de experimentar a partir de 2008 --se o cenário macroeconômico continuar benigno.
Em entrevista no último dia 30, antes de reunião promovida pela holding Itaúsa com analistas, o executivo do Itaú ressaltou que o segmento é o único que ainda não foi explorado pelos líderes do varejo bancário no país e será determinante no crescimento do crédito à pessoa física.
No entanto, segundo ele, o setor só tem como deslanchar quando a taxa básica chegar ao nível de 12 por cento ao ano e for possível casar o prazo de captações com os dos empréstimos.
Atualmente, a Selic está em 14,25 por cento ao ano. A média das projeções de mercado colhidas pelo Banco Central aponta taxa básica de 12,75 por cento ao ano no final de 2008.